Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O uso de agrotóxicos nas lavouras brasileiras, como forma de elevar a produtividade no campo, foi criticado pelo coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, que participou de aula inaugural da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O assunto foi debatido como parte da preparação da instituição para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que será realizada em junho, no Rio de Janeiro.
De acordo com o ativista, que lançou no ano passado a Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida, o Brasil deveria proibir totalmente o uso desse tipo de produto. Ele acredita que a utilização dessas substâncias está ligada apenas à lógica mercadológica de aumento de lucros.
“O crescimento do uso de agrotóxicos no Brasil não tem a ver com necessidade agronômica, com condições climáticas, mas com o modelo atual do agronegócio, para conseguir produtividade e lucro máximos. Por isso, é preciso conscientizar a população para que, num processo de transição, cheguemos à [condição de] não utilização de nenhum tipo de veneno agrícola”, avaliou.
Stédile destacou que o Brasil é apontado como o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Segundo ele, o consumo médio anual no país é 5,4 litros dessas substâncias por habitante e para cada hectare cultivado são utilizados 16 litros de agrotóxicos.
“Não há cientista ou agrônomo que consiga justificar que, mesmo numa agricultura tropical, sejam necessários 16 litros de veneno para cultivar 1 hectare”, lamentou.
Para o coordenador do MST, a saída para a produção de alimentos saudáveis é o desenvolvimento da agroecologia, baseada em experiências de agricultores familiares, de comunidades indígenas e camponesas, capazes de estabelecer uma nova relação entre sociedade e natureza.
O coordenador executivo da Assembleia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente do Rio de Janeiro (Apedema-RJ), Markus Budzynkz, ressaltou que o fortalecimento da agricultura orgânica representa uma forma de resistência ao crescimento do uso de agrotóxicos.
Ele informou que somente no Rio de Janeiro há cerca de 460 produtores orgânicos cadastrados, que trabalham para difundir a produção e o consumo de alimentos que não oferecem riscos à saúde.
“A situação é grave, mas há esperança de melhora com o fortalecimento da cultura. É preciso aumentar a conscientização de produtores rurais sobre a importância das práticas ambientalmente corretas e que os consumidores deem preferência aos produtos certificados. Ainda que os preços sejam algumas vezes maiores do que os produtos comuns, ao consumi-los a população tem a garantia de que não vai ter prejuízos à sua saúde”, afirmou.
No fim do ano passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão que coordena o Sistema Nacional de Vigilância Toxicológica, divulgou o resultado de uma análise feita em 2010, constatando o uso de agrotóxicos não autorizados no plantio de determinados alimentos.
Entre as 2.488 amostras de alimentos analisadas, quase três em cada dez apresentaram resultado insatisfatório para a presença de resíduos dos produtos. Deste total, 605 (24,3%) amostras estavam contaminadas com agrotóxicos não autorizados; em 42 amostras (1,7%), o nível de agrotóxico estava acima do permitido; e em 37% dos lotes avaliados não foram detectados resíduos de agrotóxicos. O pimentão liderava a lista dos alimentos com grande número de amostras contaminadas por agrotóxico, seguido por morango e pepino.
Edição: Lílian Beraldo