Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Ao assumir o governo do Rio de Janeiro em 2002, a hoje deputada federal Benedita da Silva (PT) era a imagem do preconceito. Tanto que as características “mulher pobre, negra e favelada”, como ela mesma se denominou durante a campanha, viraram forma de identificação da chefe do Executivo estadual e bordão em conversas informais. Mesmo no comando de um dos estados mais importantes economicamente do Brasil, Benedita conta que enfrentou preconceito. “Você já imaginou uma mulher negra com histórico de comunidade virar governadora do Rio de Janeiro? Era inimaginável”, conta a deputada prestes a completar os 70 anos de idade.
“É claro que a população do Rio de Janeiro sempre me honrou. Fui vice-governadora, governadora, depois senadora e deputada federal. Foi o estado do Rio de Janeiro que me proporcionou [isso]. Mas é evidente que a minha presença, seja no Executivo, seja no Legislativo sempre é alvo de discriminação. O preconceito está presente no modo de tratar uma campanha de mulher. Até quando essa mulher tem todas as condições, seja qualificação, conhecimento, postura, ela sofre preconceito”, destacou ela que, em 1998, foi a primeira mulher a presidir uma sessão do Congresso Nacional.
No ano passado, o PT aprovou a paridade de gênero que passará a valer na campanha do partido em 2013. Foi o primeiro partido a destinar metade das candidaturas para mulheres como regra e essa “conquista”, de acordo com Benedita, foi alcançada com muita luta, com as mulheres petistas enfrentando a presença majoritária de homens dentro da legenda.
“Esse compromisso dos partidos dos trabalhadores com as divisão igualitária em relação ao gênero não foi uma dádiva, foi porque nós, mulheres petistas, conquistamos. Também estamos discutindo a reforma política, na qual queremos que se tenha uma lista paritária”, destacou a deputada.
Mesmo diante das resistências internas, para a deputada, é necessário reconhecer a atuação do partido nas últimas duas décadas no processo de dar cada vez mais visibilidade às mulheres. “Foi o Partido dos Trabalhadores que primeiro colocou a questão das cotas. Foi por meio da então deputada Marta Suplicy (PT) e de mim, quando era senadora, que se apresentou a política de cotas para mulheres. Hoje, todos os demais partidos já têm essa política”, destacou.
Além da paridade, outra resolução aprovada pelo partido foi o uso de parte do fundo partidário para a formação política de quadros femininos, com mais condições de disputar as eleições. Essa divisão, de acordo com Benedita, tem o objetivo de evitar uma prática comum nas demais legendas, que para cumprir a Lei das Cotas, que exige 30% das vagas de candidaturas para mulheres, acabam lançando candidatas sem condições de disputa.
“Sou candidata para ganhar. Se há 80 anos conquistamos o direito de votar, agora, nós mulheres queremos ser votadas. Isso é um compromisso que a gente tem com as mulheres que lutaram pelo direito ao voto”, disse Benedita que considera os partidos importantes instância de luta feminina. “Não adianta a gente fazer uma luta sem a presença dos homens. Do ponto de vista didático, é importante a luta das mulheres para o amadurecimento de todos”, completou.
Edição: Talita Cavalcante