Sabrina Craide
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A presença dos sem-terra paraguaios, conhecidos como carperos, nas propriedades de agricultores brasileiros no país vizinho pode colocar em risco o calendário agrícola da região do Alto Paraná. Segundo o cônsul-geral do Brasil em Ciudad del Este, embaixador Flavio Roberto Bonzanini, os brasiguaios, como são conhecidos os produtores brasileiros que vivem no Paraguai, estão com medo de colocar as máquinas para funcionar.
“Nas próximas semanas tem a colheita da soja, depois o plantio do milho. Eles se sentem temerosos até mesmo de mover a maquinaria nas propriedades por medo de atentados contra equipamentos, que são valiosos, e eles próprios se sentem acuados”, disse Bonzanini, em entrevista à Agência Brasil.
Ele conta que a reintegração de posse, determinada pela Justiça do Paraguai, não está sendo cumprida na região, que fica na fronteira com o Brasil. “A promessa [das autoridades paraguaias] é que seria cumprida em breve a ordem de reintegração de posse. Mas temos observado uma defasagem muito grande entre a promessa e o efetivo cumprimento dessa ordem judicial”, relata. A alternativa, segundo ele, seria processar as autoridades do país vizinho, que teriam a obrigação de fazer cumprir a ordem judicial. “Mas aí já é uma questão política”, observa.
Segundo o embaixador, o clima na região é considerado “explosivo”. “A questão não é apenas cumprir a ordem de reintegração de posse, mas é que a multidão continua fazendo pressão e ameaçando brasileiros e descendentes, que são proprietários das terras há décadas”. Ele diz que os brasileiros garantem que vão resistir e que não irão entregar suas terras “de mão beijada”.
O consulado brasileiro em Ciudad del Este está acompanhando de perto a situação dos brasiguaios. Na semana passada, houve uma reunião que resultou em um memorando relatando o panorama da região, entregue à Embaixada do Brasil em Assunção, capital paraguaia, e ao Ministério das Relações Exteriores, em Brasília.
A estimativa é que cerca de 350 mil brasileiros, a maioria agricultores, vivam em território paraguaio. Recentemente, o governo paraguaio mudou as regras sobre a faixa de fronteira, o que aumentou a pressão dos sem-terra paraguaios para que os brasileiros abandonem suas terras, alegando que elas foram ocupadas irregularmente.
Edição: Juliana Andrade