Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aloizio Mercadante, disse hoje (15), em audiência pública na Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) do Senado, que mais pessoas poderão morrer no verão do próximo ano por causa de deslizamentos de terra provocados pelas fortes chuvas típicas da estação, como aconteceu na região serrana do Rio de Janeiro em janeiro deste ano.
“Eu vou repetir o que eu tenho dito: morrerão pessoas neste verão e nos próximos. Nós não vamos ter um sistema capaz de impedir vítimas. O que nós estamos fazendo é diminuir o impacto dos extremos climáticos que estão se agravando”, disse o ministro ao expor o trabalho do governo na constituição de um sistema de alerta para antecipar o risco de chuvas e desmoronamentos.
Dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden) apontam que inundações e deslizamentos são responsáveis por cerca de sete de cada dez ocorrências de desastres naturais no Brasil. Conforme o centro, os deslizamentos de terra em encostas são responsáveis pelo maior número de fatalidades.
“Nós teremos vítimas este ano. Nós não queremos criar nenhum tipo de ilusão”. Para o ministro “não há como impedir especialmente o deslizamento, e [retirar] entre duas e seis horas uma comunidade, uma favela inteira, um bairro inteiro, que não tem tradição, não tem mobilidade, não tem estrutura para fazer isso. Nós estamos buscando criar essa consciência”, apontou.
De acordo com Mercadante, o maior desafio para o funcionamento de um sistema de alerta eficiente está no levantamento geotécnico das áreas de risco. “Nós não temos esse levantamento no Brasil”, disse aos parlamentares. Ele disse que faltam geólogos no mercado para fazer o estudo. A dificuldade é tamanha que o próprio Cemaden não conseguiu contratar geólogos em seleção aberta recentemente.
“Nós fizemos concurso e não apareceu um geólogo com doutorado, por exemplo, para participar do Cemaden. Nós vamos ter que contratar geólogos fora do Brasil. Os geólogos estão todos na mineração e na Petrobras. O mercado é muito melhor, paga mais. Imagina subir morro para ver pobre e área de deslizamento. Não tem como competir com mineração e com petróleo”, lamentou.
Além da falta de informação geotécnica, o ministro salienta que a situação da defesa civil em todo o país é muito “heterogênea”, em alguns lugares, está mais preparada e equipada e em outros, menos. “O Brasil precisa entender que o clima mudou. Nós vamos ter inundações, vamos ter deslizamentos e vamos ter mortes. E quanto mais cedo nós nos prevenirmos, quanto mais importância nós dermos a esse desafio, melhores as chances que teremos de mudar essa situação.”
O ministro destacou ainda que o país não tem problemas com a previsão meteorológica e lembrou do trabalho desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da coleta de informações sobre o tempo e o clima do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), além do trabalho feito pela Aeronáutica, com 21 radares, e dos governos estaduais.
Edição: Lana Cristina