Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Um levantamento feito pelo Instituto Alana e pelo Observatório de Mídia mostra que o público infantil foi o principal alvo da publicidade nos 15 dias que antecederam o Dia da Criança, em outubro de 2011. A pesquisa analisou a programação de 15 canais de TV aberta e paga, durante 15 horas por dia. Em todo o período as crianças foram alvo de 64% dos comerciais veiculados.
Os dados constam do Monitoramento da Publicidade de Produtos e Serviços Destinados a Crianças, divulgado hoje (30), em São Paulo, com a finalidade de municiar de informações parlamentares envolvidos em para projetos de lei que regulamentam a publicidade para o público infantil.
Segundo os dados, 56% das propagandas são de brinquedos, seguidas pela de lojas de brinquedos (33%). As empresas que mais direcionaram publicidade para as crianças foram as indústrias de brinquedos e jogos Mattel, com 8,9 mil comerciais veiculados nesse período, seguida da Hasbro, com 6 mil, e da Estrela, com 1,7 mil inserções.
Por causa desse resultado, ativistas de organizações que lutam pela regulamentação da publicidade infantil fizeram um protesto em frente à sede da Mattel, em São Paulo, quando simularam a entrega do troféu de "empresa mais manipuladora das crianças".
De acordo com o coordenador do Observatório de Mídia da Universidade Federal do Espírito Santo, Edgar Rebouças, responsável pela pesquisa, as entidades não concordam com esse tipo de publicidade, pois acreditam que a propaganda deve ser direcionada aos pais, que são os detentores do poder de compra.
O estudo será feito durante quatro anos abordando datas como Dia da Criança, Natal e Páscoa. Serão analisados ainda fatores como estímulo à violência, erotização precoce, mensagens contra valores, amizade entre pais e filhos e entre crianças, consumo excessivo, linguagem e uso de efeitos especiais. Além disso, a pesquisa vai levantar dados sobre os canais que mais veiculam publicidade para crianças.
“Analisamos quais canais têm a intenção de trabalhar mais com publicidade do que com conteúdo. Por exemplo há canais de televisão paga direcionados à criança com horários que passam mais publicidade do que desenho. Com isso, crianças, principalmente as menores, que não sabem identificar o que é o programa e o que é o comercial são mais facilmente convencidas”.
O pesquisador destacou que a propaganda infantil pode prejudicar relações familiares, pois há famílias que não têm condições de comprar determinados produtos anunciados para as crianças. Alguns chegam a custar mais de R$ 300. “A criança vai pedir para os pais comprarem aquilo e os pais dirão que não podem e, aí, cria-se um conflito familiar”. A propaganda para as crianças também ajuda a formar o consumidor do futuro, por meio da fidelização de marca. “Em vez de formarmos cidadãos conscientes, estamos formando consumidores. Há uma grande diferença”.
Com relação à erotização precoce, Rebouças citou como exemplo o bombardeio de publicidade de uma boneca amplamente desejada pelas meninas, a Barbie. Ele disse que o brinquedo não desperta na criança o sentimento de cuidar da boneca, mas sim, de querer ser como ela. “As crianças passam a querer ser a imagem daquela boneca. Vão querer usar o vestido, ter o namorado, o cabelo. Em vez de querer valorizar padrões de beleza mais nacionais, acabam ligadas a estereótipos a partir de uma boneca, não do que é do seu convívio”.
No caso dos meninos, Rebouças destacou os bonecos que estimulam a violência e geram comportamentos agressivos, porque as crianças tentam reproduzir com colegas a brincadeira que fazem com os bonecos. “O boneco é, por natureza, violento. Não é de aventura, de esporte. É de matar, brigar, quebrar os inimigos. Então se associa ao brinquedo a imagem de valente que quebra o outro”.
Edição: Vinicius Doria