Paulo Virgilio
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – O Ano Internacional da Afrodescendência e o Dia da Consciência Negra tiveram uma dupla comemoração nesta segunda-feira (28), na Biblioteca Nacional. Além da assinatura de acordos de cooperação com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), foi lançada, em solenidade no início da noite, uma coletânea inédita sobre a literatura de afrodescendentes no Brasil. A obra é resultado de dez anos de pesquisas. O evento também contou com uma homenagem póstuma ao ativista, professor, escritor e poeta Abdias Nascimento, que morreu este ano.
De autoria dos professores de literatura Eduardo de Assis Duarte, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Maria Nazareth Soares Fonseca, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais, a coletânea Literatura e Afrodescendência no Brasil: Antologia Crítica reúne, em quatro volumes, textos de 100 escritores negros, do século 18 aos dias atuais. Cada um dos textos é acompanhado de um estudo crítico feito por 61 pesquisadores de 21 universidades brasileiras, além de seis estrangeiras.
O primeiro volume é dedicado aos chamados precursores, abrangendo o período que vai do século 18 aos nascidos até à década de 1920 do século 20. O segundo, Consolidação, abrange os escritores nascidos nas décadas de 30 e 40; e o terceiro, Contemporaneidade, é dedicado aos que nasceram a partir de 1950 e publicaram seus primeiros textos nas últimas décadas do século passado e na primeira do século 21. O quarto volume da antologia contém depoimentos de Abdias Nascimento e outros escritores, além de artigos em que se discute a pertinência do conceito de literatura afro-brasileira.
“É a primeira vez que é feito esse levantamento e, desses 100 escritores, aproximadamente dez são os mais conhecidos, como Machado de Assis, Cruz e Souza e Lima Barreto, e, entre os contemporâneos, Nei Lopes, Joel Rufino dos Santos e Muniz Sodré”, relata o professor Eduardo de Assis Duarte. “A grande maioria, no entanto, são autores pouco divulgados, pouco conhecidos, principalmente dentro dos manuais de história da literatura brasileira”, acrescenta.
Segundo Duarte, a expectativa é a de que a publicação da antologia “jogue uma luz sobre autores até agora desconhecidos, como Maria Firmina dos Reis, do século 19”. Ele considera que há um ponto comum entre vários autores de diferentes épocas, que é a necessidade de recuperar a história do negro no Brasil.
Entre os acordos firmados com a Seppir está a previsão de coedição, em formato eletrônico, de obras do acervo da Biblioteca Nacional, em domínio público, escritas por autores negros. Outro acordo prevê a divulgação da literatura de autores afro-brasileiros por meio de mostras, envio de livros para bibliotecas e ações de incentivo à leitura.
Serão implantados cinco pontos de leitura em áreas habitadas por povos e comunidades tradicionais afro-brasileiras. Para isto, a Fundação Biblioteca Nacional vai oferecer mais de 600 obras voltadas para o tema a cada um dos grupos contemplados, além de material de informática e outros, como estantes e almofadas.
Edição: Lana Cristina