Renata Giraldi
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Há quatro dias o Egito vive, pela segunda vez no ano, manifestações violentas contra o governo que causaram pelo menos 33 mortos e 2 mil feridos. O alvo é o Conselho Supremo das Forças Armadas, conduzido pelos militares, que há nove meses comanda o país desde a renúncia do ex-presidente Hosni Mubarak. O embaixador do Brasil no Egito, Antonio Melantonio Neto, disse à Agência Brasil que o clima de “tensão é muito grande” e há “uma luta entre civis e militares”. O diplomata acrescentou que, apesar da disputa, as eleições parlamentares do dia 28 estão confirmadas. A seguir, os melhores trechos da entrevista.
Antonio Melantonio Neto - O senhor compara os acontecimentos dos últimos dias com o que ocorreu em fevereiro, quando o ex-presidente Hosni Mubarak foi pressionado a renunciar?
ABr – É a segunda onda revolucionária, como eles mesmos chamam. A tensão é muito grande. Mas aumenta ao final do dia e começo da noite, quando as pessoas saem do trabalho e passam a participar dos protestos e manifestações. É inadmissível saber que nos últimos dias 33 pessoas foram mortas e mais de 2 mil ficaram feridas.
Melantonio Neto - A sociedade egípcia não aceita o comando militar no país?
ABr – No Egito, os militares têm uma série de privilégios, que vão de salários mais elevados do que os dos demais funcionários públicos, favorecimentos para a compra de imóveis e, para completar, o orçamento das Forças Armadas é mantido em sigilo e não passa pelo Legislativo. Os civis não querem mais isso e exigem eleições.
Melantonio Neto – As eleições legislativas estão marcadas para segunda-feira, dia 28, em meio aos protestos. Será que elas ocorrerão?
ABr – Tenho informações de militares do alto comando que as eleições serão realizadas sem postergação. Os civis não aceitam o comando do chefe do Conselho Supremo das Forças Armadas, marechal Hussein Tantaoui, que foi da equipe do ex-presidente Mubarak. Para os egípcios, Tantaoui protege Mubarak ao orientar a Justiça a promover vários adiamentos do julgamento do ex-presidente. O caso dele agora ficou para dezembro.
Melantonio Neto – Observando a situação tão de perto, qual é a análise que o senhor faz?
ABr – Os militares cometeram um erro gravíssimo ao repetir atos do governo anterior, como a violência cometida contra pessoas inocentes nos últimos dias. Pessoas desarmadas foram mortas e feridas. Números de 33 mortos e mais de 2 mil feridos são absurdos e inaceitáveis. O que os egípcios querem é a saída imediata dos militares do poder.
Melantonio Neto – Então, os protestos colocam civis versus militares?
ABr – Exatamente, é uma luta dos braços civis e militares para comandar o país. Só que os militares não lutam por uma causa em favor do Estado do Egito, mas para manter seus próprios privilégios, que são muitos, comparando com os dos demais funcionários públicos. Os militares prometeram fazer a transição política para os civis até abril de 2012, mas há desconfianças sobre isso no país.
Edição: Graça Adjuto