Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Organizações não governamentais (ONGs) de direitos humanos defendem a instalação de núcleos permanentes de cidadania dentro da comunidade, com as presenças do Ministério Público e da Defensoria Pública, que permitam aos moradores denunciar eventuais abusos cometidos pelas forças de segurança. O objetivo é não repetir erros cometidos durante a ocupação do Complexo do Alemão, que muitas vezes acabaram em atritos entre soldados e a população local.
O integrante da organização Justiça Global Rafael Dias disse que deve se evitar a visão estereotipada de que todo o morador é um suspeito em potencial, como vinha ocorrendo no Alemão, onde as pessoas eram revistadas mais de uma vez no mesmo dia.
“O que nós temos visto em outras comunidades ocupadas pela polícia é que existe um policiamento que encara os moradores do local com suspeição. Vemos com preocupação o que vem acontecendo no Complexo do Alemão, onde houve uma série de violações logo depois da entrada da polícia. Até hoje existe uma série de denúncias de abuso de autoridade dos soldados que estão lá”, disse Dias.
Para ele, é preciso a instalação imediata de núcleos que ouçam e defendam a população. “A presença do Ministério Público e da Defensoria Pública é importante neste momento. Em caso de violações por agentes federais, como acontece no Alemão, é preciso o Ministério Público Federal".
A garantia de canais de comunicação da comunidade também é reivindicada pelo presidente da Associação dos Profissionais e Amigos do Funk (Apafunk), Leonardo Pereira Mota, mais conhecido pelo nome artístico de Mc Leonardo. Ex-morador da Rocinha, ele vê com ceticismo a presença policial na comunidade.
“O momento não é de festa. A invasão da polícia transcorreu bem, mas a ocupação é um passo que deve se dar com bastante cobrança pelos moradores. Só a polícia não traz paz. Quem tem a força não pode ter o poder. Nas UPPs [unidades de Polícia Pacificadora] tudo fica na mão do capitão. Queremos núcleos de conscientização política e social, com apoio do Ministério Público, da Defensoria Pública e das associações comunitárias, para que as pessoas possam cobrar seus direitos”, disse Mc Leonardo.
Edição: Rivadavia Severo