Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A retomada do Estado sobre o território das favelas do Rio de Janeiro depende do grau de associativismo das comunidades, indicam especialistas. Segundo eles, dependendo da mobilização social dos grupos, a transformação social das comunidades ocorrerá de forma diferenciada.
Na opinião de Michel Misse, professor de sociologia e antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor do Núcleo de Estudos em Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ, quanto maior o grau de mobilização social nas comunidades, maiores as chances de que as transformações sociais ocorram. “Em comunidades onde já existiam alto grau de associativismo, a interação com a ocupação é diferente. A polícia acaba tendo que conversar mais com a associação de moradores”.
”O ineditismo das ações está principalmente no fato de a polícia permanecer nas comunidades após a ocupação. Antes, a polícia fazia essas incursões, militarizadas em algumas vezes, e depois, ia embora. Agora, a polícia tem ocupado e permanecido. Não com meia dúzia de policiais e sim com 300 e 400 homens”, destacou o professor.
“Existem áreas em que o tráfico continua, inclusive com o pagamento de propina. Em outras áreas, policiais mais conservadores tentam estabelecer um certo controle moral sobre a população, o que acaba tendo um efeito nocivo, principalmente sobre os jovens. Um exemplo é que em algumas comunidades, houve tentativa de proibição de bailes, condenação de determinados comportamentos”.
Na opinião de Marcelo Burgos, coordenador da área de sociologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, esse grau de associativismo pode ser um ponto a favor para que transformações ocorram na comunidade da Rocinha e do Vidigal. “Até podemos imaginar que na Rocinha pode ser diferente, pelo volume de coisas que já acontece por lá, pelo grau de interação da comunidade com a zona sul da cidade".
Burgos coordena um grupo de trabalho com seis escolas de ensino fundamental na Gávea, bairro da zona sul, que atendem 6,5 mil alunos, maior parte moradores da Rocinha. “Acho que a partir de agora, esse trabalho realizado pela universidade poderá ser incrementado”.
Edição: Rivadavia Severo