Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – A primeira peça da exposição ArteFAtos Indígenas é um grande cocar kayapó feito de penas vermelhas e azuis de araras. Logo em seguida, o visitante conhece versões menores do mesmo objeto, confeccionadas com canudos de plástico amarelos, daqueles usados para tomar refrigerante. Os modelos, representantes legítimos da arte desse povo que vive em Mato Grosso, podem ser vistos gratuitamente no Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Parque Ibirapuera, em São Paulo, até o dia 8 de janeiro.
“As pessoas têm uma ideia de que os índios estão contaminados, que a cultura está decaindo, porque eles usam materiais que não são naturais. Na verdade, é o contrário, eles estão enriquecendo, estão se apropriando de materiais novos para fazer aquelas coisas que sempre fizeram”, explica a curadora da mostra, Cristiana Barreto.
Com a comercialização proibida desde 2004, as plumas vêm sendo deixadas de lado pelos índios, segundo Cristiana. A mudança de material não afeta, no entanto, a força simbólica dos adornos. “Eles continuam tendo o mesmo significado tradicional, apesar de feitos com outros materiais”, ressaltou.
Entre as 270 peças expostas estão tangas de tecido decoradas com sementes e miçangas dos povos Tiriyó e Kaxuyana, outro exemplo de mistura do convencional com a reinvenção. Cristiana conta que as miçangas são praticamente um item tradicional, introduzido pelo contato com escravos fugitivos da Guiana Holandesa no século 19, enquanto as sementes começaram a ser usadas depois do intercâmbio cultural com os Wayana, em tempos recentes. “A exposição tenta questionar um pouco essa noção que a gente tem do que é tradicional e do que é moderno”, destaca a curadora.
A Cobra Cosmológica, retratada em escultura no início da mostra, é figura presente na mitologia de vários grupos indígenas. Pela sua representatividade, tornou-se até o logotipo da exposição. O artista que esculpiu a obra, entretanto, é um dos que buscam introduzir a inovação na arte dos Palikur.
“Ele começa a representar constelações, estrelas em esculturas que antes os índios não faziam”, relata a curadora em referência a obras como o Barco Mítico. A escultura está em uma das vitrines da mostra, com a indicação de que “não faz parte do repertório tradicional dos povos do Oiapoque”.
Inovações como essa precisam ter boa aceitação dentro dos grupos para se tornarem significativas para a comunidade. “ Na medida em que isso tem certa aceitação, que todo mundo admira, dentro do grupo e fora, para venda, eles começam a fazer mais”, explica Cristiana.
Edição: Graça Adjuto