Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, disse hoje (3) que o resultado do Brasil no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) 2011 não reflete os avanços mais recentes do país em saúde, educação e transferência de renda. O Brasil é 84º colocado em uma lista de 187 países, divulgada ontem (2) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
O governo decidiu reagir depois que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a metodologia do Pnud. De acordo com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, Lula, que está em tratamento químico contra um câncer de laringe, telefonou pela manhã para o Palácio do Planalto reclamando do relatório. "Ele telefonou para falar sobre os números do Pnud. Estava irado, dizendo que [o relatório] era injusto e que o governo tinha que reagir", disse Carvalho.
A principal crítica do governo é ao Índice de Pobreza Multidimensional (IPM), um dos indicadores complementares do IDH, também divulgado ontem pelo Pnud. O IPM vai além da renda e avalia privações nas áreas de saúde, educação e padrão de vida para avaliar se uma pessoa é pobre. O índice considera privações em dez indicadores, como nutrição, acesso à água potável, saneamento, acesso à energia e anos mínimos de escolaridade. É considerado multidimensionalmente pobre o indivíduo privado de, pelo menos, um terço dos indicadores. Segundo o Pnud, 2,7% da população brasileira, cerca de 5 milhões de pessoas, estão incluídos nesse tipo de pobreza.
“Preocupa-nos que o relatório trate do IPM com indicadores de 2006, porque é exatamente a partir de 2006 que o Brasil avançou num conjunto de elementos. incorporando essa multidimensionalidade da pobreza, se preocupando com a pobreza não só do ponto de vista da renda. A partir de 2007 é que se incorporou uma parcela muito grande da população no [Programa] Bolsa Família”, disse Tereza Campello.
Segundo a ministra, além do Bolsa Família, os avanços sociais e econômicos proporcionados pela política de valorização do salário mínimo, pelos investimentos em agricultura familiar e programas como o Luz para Todos {de universalização do acesso à energia elétrica] também não estão refletidos no cálculo do Pnud por causa da defasagem dos dados.
“Se conseguirmos incorporar esses elementos nas estatísticas e nos relatórios do Pnud, certamente teremos um salto muito grande e um impacto muito maior nos próximos relatórios. O Pnud mostra que o Brasil avança, continua melhorando, mas, na nossa avaliação, esse avanço é ainda maior”.
Campello reforçou a crítica feita mais cedo por Gilberto Carvalho à metodologia usada pelas Nações Unidas para definir o desempenho dos países no desenvolvimento humano. “Há vários anos pedimos ao Pnud para que estatísticas recentes do país sejam consideradas no relatório. É muito preocupante usar dados de 2006. Parcela dessa metodologia não é nem conhecida pelo governo brasileiro, fica até difícil fazer uma discussão sobre a metodologia porque não a conhecemos”, ponderou.
Apesar das críticas, no inicio da entrevista, a ministra disse que a avaliação geral é que o Brasil alcançou resultados positivos no rol do Pnud. “Estamos entre 36 países que subiram no ranking em 2011. Nos últimos cinco anos, estamos entre os 24 que subiram três ou mais posições”.
Edição: Vinicius Doria