Gilberto Costa
Enviado especial*
Manaus – Passados mais de 40 anos de sua criação, a Zona Franca de Manaus (ZFM) enfrenta a falta de força de trabalho com alta qualificação para as carreiras de gerentes e supervisores e para as atividades de inovação tecnológica. A situação de Manaus tem um agravante em relação ao quadro nacional. Por ser um polo industrial, com alta participação de capital multinacional, muitas das soluções tecnológicas (que agregam valor ao produto, como o design) são elaboradas fora da ZFM, especialmente no exterior, na sede da matriz ou onde estão os centros de pesquisa e desenvolvimento.
As cinco maiores empresas instaladas dos três principais setores (polo eletrônico, polo de duas rodas e polo químico) são de capital estrangeiro. Segundo o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Alessandro Teixeira, em média 35% dos componentes das mercadorias da ZFM vêm do exterior.
No caso da japonesa Sony, que tem sua única fábrica no Brasil na ZFM, as soluções e inovações são desenvolvidas no Japão, na Malásia, na Tailândia ou na China, onde estão os centros de pesquisa e desenvolvimento da multinacional. “Não tem desenvolvimento no Brasil”, informa Luciano Martins, diretor de Manufatura, ao explicar que “o conceito” vem de fora. Segundo ele, o volume de produção no Brasil ainda não justifica uma decisão de formar ou trazer uma equipe com esse perfil.
Na fabricante de motos e bicicletas chinesa Kasinski, a tecnologia é desenvolvida em São Paulo, onde há uma equipe com 16 engenheiros, conta o presidente da filial brasileira, Claudio Rosa Junior. O executivo trabalha na Zona Franca há 20 anos e testemunha que ainda falta gente qualificada para os postos mais altos. “O problema está no nível hierárquico acima, a partir dos gerentes. Os cargos de gerência são exercidos por pessoas que ainda vêm de fora do Amazonas”.
“Se São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais ainda têm esses problemas [de falta de mão de obra qualificada] imagine nós”, comenta o superintendente interino da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), Oldemar Ianck, que inclui a falta de operadores com ensino médio e formação técnica para máquinas especializadas.
Para o secretário executivo de Ciência e Tecnologia do Amazonas, Marcelo Mario Vallina, o que mais preocupa é a falta de engenheiros no mercado. “A engenharia é um problema sério”, disse repetindo o diagnóstico que baseou a criação do programa do governo federal Ciência sem Fonteiras, concebido para aumentar a formação e especialização de engenheiros e de outras profissões de ramo tecnológico.
Conforme Vallina, o governo de estado desenvolve há mais tempo linhas que podem complementar o programa federal, como a oferta de bolsas para professores e alunos dos últimos anos do ensino fundamental e do ensino médio. Além disso, o estado fornece bolsa aos estudantes amazonenses matriculados em programas de pós-graduação fora do estado. O esforço é para chegar ao número de 8 mil doutores, atualmente há 1,6 mil.
Até outubro deste ano, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), criada em 2003, concedeu 1.497 bolsas de iniciação científica júnior (ensino fundamental e médio), 1.162 bolsas de iniciação científica para a graduação, 295 para mestrado, e 148 para doutorado.
Em Manaus há 13 cursos profissionalizantes (integrados ao nível médio) oferecidos pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas para 588 alunos. Na capital do Amazonas há 147 cursos universitários com 13 mil alunos matriculados (dados do Ministério da Educação).
A falta de pessoal qualificado é a quarta principal queixa do empresariado brasileiro segundo a Sondagem Industrial divulgada na última terça-feira (25) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em encontro feito hoje em São Paulo pela entidade, as deficiências na educação básica foram apontadas pelos empresários como problema para a qualificação da mão de obra.
*A EBC cobre o evento a convite de Suframa
Edição: Rivadavia Severo