De Monica Yanakiew
Correspondente da EBC na Argentina
Buenos Aires - As eleições argentinas coincidem com o décimo aniversário da crise de 2001, que marcou o país. Depois de manter o peso argentino atado ao dólar norte-americano durante uma década e privatizar as estatais, a Argentina mergulhou em uma recessão no final dos anos 1990. Varias tentativas de adotar medidas de ajuste, para pagar os credores, fracassaram. A última medida, o congelamento das contas bancárias para evitar a saída de capitais, levou milhares às ruas em dezembro de 2001. Houve saques a supermercados, panelaços e protestos nas portas dos bancos. O resultado foi a renúncia do então presidente Fernando de La Rua e um vazio político.
Naquele período, a Argentina teve cinco governantes em apenas duas semanas. Entre eles, o peronista Adolfo Rodriguez Saa, que ficou no governo apenas uma semana e decretou a moratória unilateral da íivida externa. Foi sucedido por outro peronista, Eduardo Duhalde, que desvalorizou o peso, convocou eleições para 2003 e começou a colocar a casa em ordem. Em 2003, o governador de Santa Cruz, Néstor Kirchner, foi eleito com apenas 22% dos votos.
"Tomamos a decisão de sair da crise sozinhos, sem programas do Fundo Monetário Internacional (FMI), que são sempre recessivos, haja visto o que está acontecendo na Grécia agora", explicou à Agencia Brasil Roberto Lavagna, ex-ministro da Economia de Duhalde e de Neétor Kirchner. "O FMI sugere sempre tirar dinheiro da população para pagar os credores. Nossa proposta foi reestruturar a dívida e dizer aos credores que não tínhamos de pagar mais porque precisávamos investir dinheiro no aumento dos salários, na criação de empregos e em planos sociais. O resultado foi que a economia começou a crescer 8% [ao ano]. A situação fiscal melhorou e conseguimos um superávit recorde de 18 bilhões de dólares".
Lavagna, que hoje está na oposição, questiona, porém, os excessivos gastos públicos do governo de Cristina Kirchner. Segundo ele, até 2005, o governo gastava 3,5 bilhões de pesos em subsídios para gás, luz, transporte e programas sociais. Hoje, os gastos chegaram a 65 bilhões de pesos, vinte vezes mais. E, ao invés de superávit, temos déficit fiscal. O problema é que os subsídios não beneficiam apenas os pobres. Os ricos também pagam eletricidade subsidiada", diz ele.
Na hora de votar, a presidenta Cristina reivindicou a política de confronto com o FMI, que o casal Kirchner adotou. E disse que a crise na Grécia demonstrou que os argentinos tinham razão. Segundo o analista político Artemio Lopez, da consultora Equis, os planos sociais reduziram o nível de pobreza de 54% em 2003 para 20% hoje. E isso explica a popularidade da presidenta que, tudo indica, será reeleita hoje. Pobre, na Argentina, é uma família de quatro pessoas que vive com, no máximo, 2,8 mil pesos mensais (pouco mais de mil reais).
Mas boa parte do sucesso da política econômica da Argentina deve-se ao aumento dos preços de produtos de agrícolas com grande peso na pauta de exportações do país, como carne e soja, e ao aumento da demanda de países como Índia e China por esses produtos.
Edição: Vinicius Doria