Renata Giraldi*
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O primeiro-ministro do Egito, Essam Sharaf, pediu calma ao país depois dos confrontos entre cristãos coptas (segmento da Igreja Católica que não segue o papa Bento XVI) e forças de segurança que deixaram 24 mortos e 212 feridos no Cairo ontem (9). Um toque de recolher foi imposto durante a madrugada e suspenso às 7h (2h de Brasília).
A violência começou durante protesto na capital contra um ataque a uma igreja, ocorrido na semana passada na província de Assuã, pelo qual os coptas responsabilizaram muçulmanos radicais. O assunto é tema também da reunião dos 27 ministros das Relações Exteriores da União Europeia hoje (10) em Luxemburgo.
Na semana passada, interlocutores europeus advertiram as autoridades egípcias sobre o clima de incerteza existente no país. Para os europeus, os conflitos de ontem devem ser analisados como alerta e motivo de preocupação.
Sharaf disse, depois de uma reunião de emergência com seus assessores, que as divergências entre muçulmanos e cristãos no Egito são "uma ameaça à segurança". O primeiro-ministro acrescentou que os conflitos ameaçam a “unidade” do país. Segundo ele, a origem dos confrontos pode estar em planos de conspiração para desestabilizar o governo de transição.
Em pronunciamento transmitido pela TV, após visita à região onde ocorreram os confrontos na noite de domingo, Sharaf lembrou que a ameaça mais séria à segurança do país é a provocação à unidade nacional e a alimentação da discórdia entre os filhos muçulmanos e cristãos do Egito".
Durante a noite, a TV egípcia mostrou manifestantes em confronto com as forças de segurança e veículos militares incendiados do lado de fora do prédio da TV estatal, onde os manifestantes haviam planejado um protesto pacífico. As tensões sectárias vêm aumentando nos últimos meses no Egito.
Os cristãos coptas - que representam cerca de dez por cento da população - acusam o conselho militar que governa o país de ser conivente com os responsáveis por uma onda de ataques anticristãos.
Ontem, a violência se espalhou pela Praça Tahrir - epicentro das manifestações do início do ano. Milhares de pessoas - não somente cristãos - participaram do início do protesto, com uma passeata do distrito de Shubra até a Praça Maspero, onde está a sede da emissora de TV estatal.
Os cristãos coptas reclamam de discriminação, incluindo uma lei que requer permissão presidencial para a construção de igrejas. Além disso, o Egito apenas reconhece conversões do cristianismo para o islamismo, mas não o contrário.
O clima de incerteza é constante desde a renúncia do ex-presidente Hosni Mubarak, em 11 de fevereiro. Com a saída de Mubarak, o conselho militar assumiu o poder. Os militares prometem iniciar o processo de transição política a partir de novembro promovendo eleições diretas.
*Com informações da BBC Brasil e da agência pública de notícias de Portugal, Lusa.//Edição: Graça Adjuto