Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) avalia como positivas as medidas anunciadas hoje (10) pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, visando reforçar a defesa comercial brasileira no exterior. Em entrevista à Agência Brasil, o vice-presidente executivo da entidade, Fábio Martins, comemorou as medidas de incentivo às exportações e a decisão do governo de estreitar relações com as principais lideranças empresariais do país, para identificar as barreiras às exportações dos produtos nacionais.
“É muito bom quando o governo afirma que vai tomar medidas ouvindo o setor empresarial. Isso para nós é muito bom, se a gente puder fazer chegar ao governo as nossas opiniões, os nossos pleitos”, disse Martins. Ele considerou acertada também a colaboração do Itamaraty com outros órgãos federais, como a Advocacia-Geral da União (AGU), para que haja uma atuação mais forte na área de defesa comercial na Organização Mundial do Comércio (OMC). O mesmo se aplica na prospecção de novos negócios e mercados, enfatizou.
“Vemos isso como positivo, sobretudo o anúncio que ele [Patriota] fez de criar uma força-tarefa para acompanhar as relações comerciais entre o Brasil e a China”. Martins ressaltou que a China é o nosso principal parceiro comercial atualmente. O comércio bilateral vem crescendo a um ritmo forte, com perspectiva de continuar em expansão.
O vice-presidente executivo da AEB manifestou, contudo, preocupação pelo fato de a exportação brasileira para a China estar muito concentrada em apenas quatro produtos (petróleo, minério de ferro, soja e celulose), “respondendo pela quase totalidade do que nós vendemos para o país asiático”.
Por outro lado, o Brasil compra da China uma gama diversificada de produtos. “Isso faz com que o nosso comércio seja muito desbalanceado”, disse. “Por isso, vemos com muito bons olhos o acompanhamento da China pelos peritos brasileiros. Gostaríamos de participar, colaborando com essa força-tarefa que vai acompanhar as relações Brasil-China”.
Outra preocupação da AEB está relacionada à dificuldade dos acordos comerciais, relatada pelo ministro. Fábio Martins defendeu que o Brasil não fique preso ao Mercosul, para não perder oportunidades de avançar nas negociações com outros países, a exemplo do que fizeram a Coreia e o México, por exemplo, que competem com o Brasil no mercado internacional, em especial na área de manufaturados. “Esses países conseguiram fazer um número bem mais expressivo de acordos, ao passo que o Brasil, ao ficar limitado nas negociações com o Mercosul, praticamente não fez nenhum acordo nesses últimos anos. Acreditamos que é hora de o Brasil avançar agora”.
Martins concordou que o comércio brasileiro vai crescer mais com os países emergentes do que com as nações desenvolvidas. “Isso é o que tem acontecido nos últimos anos e está em linha com o que a maioria dos analistas apresenta”. Ele acredita que isso justificaria uma ação mais contundente da diplomacia comercial brasileira com os ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e da Agricultura, para resolver entraves ao comércio que ficam, muitas vezes, limitados a questões que já deveriam ter sido superadas.
Entre elas, destacou as barreiras sanitárias à exportação de carne do Brasil. Embora seja um dos maiores exportadores de carne bovina do mundo, o Brasil não consegue vender 1 quilo de carne in natura para os Estados Unidos, que são o principal consumidor global. “Acho que está na hora de a diplomacia brasileira atuar mais firmemente nas negociações governo a governo para eliminar sobretudo as barreiras sanitárias que têm limitado a expansão das exportações brasileiras no agronegócio, onde temos reconhecida a competitividade”, disse. Segundo Martins, essas barreiras prejudicam, inclusive, o aumento do comércio brasileiro com a China.
Edição: Aécio Amado