Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – O programa Trevo de Quatro Folhas de mães cuidadoras que ajudam mães e crianças carentes em risco e que não têm apoio familiar vai ser aplicado em todo o país, começando pelo Nordeste, especialmente em municípios onde a mortalidade infantil é mais alta, informou hoje (23) María Elisa Bernal, coordenadora de um concurso promovido pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) da Organização das Nações Unidas (ONU), para selecionar iniciativas empreendedoras em inovação social que inspiraram políticas públicas regionais.
Os projetos selecionados foram apresentados hoje (23), durante evento na Fundação Getulio Vargas (FGV). Segundo María Elisa, os projetos vão ser replicados em vários locais. “Hoje, tivemos a notícia de que o projeto [Trevo de Quatro Folhas] será implementado em todo o território brasileiro, iniciando pelo Nordeste em municípios onde há mais mortalidade infantil. O Ministério da Saúde já o assumiu como seu e irá dar continuidade. Esse é o nosso ideal”.
Implantado em 2001, no município de Sobral, no Ceará, o programa Trevo de Quatro Folhas conta com a participação das chamadas mães sociais, que são mulheres da própria comunidade com a função de acompanhar mães e crianças em risco e sem o apoio da família. Elas recebem capacitação como cuidadoras nas residências ou hospitais e trabalham para promover saúde, prevenir complicações e partos prematuros, além de dar apoio à amamentação e trabalhar pelo fortalecimento da autoestima das mulheres e dos vínculos familiares.
Segundo a representante do Trevo de Quatro Folhas, Francisca Júlia dos Santos Souza, os trabalhos do grupo começaram com o apoio às mães carentes que não tinham com quem deixar seus filhos quando davam à luz a outro bebê. “O Trevo veio para resolver essa questão. Hoje, temos muitas mulheres capacitadas como mães sociais que assumem as tarefas domésticas da gestante carente para que ela possa ter repouso quando precisa e para que ela tenha com quem deixar os outros filhos para ir às consultas médicas”.
Outro projeto selecionado pela Cepal foi o Observatório Social, de Maringá, no Paraná. Projeto criado pela organização não governamental Sociedade Eticamente Responsável (SER), seu objetivo é prevenir desvios de dinheiro nos processos de licitação e fiscalizar a transparência no uso dos recursos públicos na prefeitura da cidade. Segundo a representante do programa, Fábia dos Santos Sacco, o projeto surgiu a partir de um anseio coletivo pela melhoria dos gastos públicos em Maringá em decorrência de um grande desvio de verbas públicas descoberto na prefeitura, há 10 anos.
A ONG difunde a importância do comportamento ético dos funcionários públicos e a importância econômica dos impostos. O trabalho do Observatório Social consiste em sugerir melhorias nos processos de licitação, promover cursos de capacitação para os funcionários da prefeitura e divulgar as licitações para os empresários da cidade. “A política do Observatório não é sensacionalista, divulgação de coisas erradas. É tentar corrigir aquilo que está errado.”
A Cepal selecionou 25 projetos entre 4.800 inscritos. Eles serão detalhados numa publicação da comissão que será difundida com o objetivo de replicar os programas em diversas regiões. As características dos projetos são a alta participação da comunidade, os baixos custos de implementação e o objetivo de superar a pobreza e a desigualdade, em países como o Haiti, Belize, o Peru, Chile, a Bolívia, Colômbia, Argentina e o Brasil. O objetivo da Cepal é que os projetos façam parte de políticas públicas gerenciadas por governos municipais, estaduais e federal.
Edição: Lana Cristina