Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A crise econômica que atinge os países mais industrializados pode ter impactos na exportação de mercadorias dos países emergentes. Existe a possibilidade de o baixo crescimento econômico e as restrições de gastos públicos - que Estados Unidos e União Europeia estão se impondo - repercutirem no comércio Norte-Sul.
Os riscos podem ocorrer em dois sentidos: os países desenvolvidos diminuírem a compra de produtos das economias emergentes, e, no caminho inverso, os países centrais aumentarem as exportações para as economias periféricas. Relatório de comércio e desenvolvimento publicado esta semana pela Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento (Unctad, na sigla em inglês) mostra que o Japão e a Alemanha, por exemplo, já aumentaram as exportações.
O dólar desvalorizado favorece a importação de produtos industrializados pelos emergentes. Um dos efeitos indesejáveis é que essas compras substituam os produtos prontos ou mesmo as peças manufaturadas, fenômeno associado à desindustrialização (desaparecimento de empresas ou de setores industriais devido à concorrência externa). O problema vem sendo alertado constantemente por entidades empresariais do Brasil.
O outro caminho, que também pode levar à desindustrialização, é a diminuição da importação de produtos de maior valor agregado. Estados Unidos e Europa importam proporcionalmente mais bens industrializados do Brasil do que a China, isoladamente o principal parceiro comercial brasileiro.
No ano passado, dos US$ 19,3 bilhões obtidos com as exportações para os Estados Unidos, US$ 13 bilhões (quase 70%) foram de produtos industrializados, sendo US$ 3,1 bilhões de semimanufaturados e US$ 9,9 bilhões de manufaturados.
Para a União Europeia, as exportações de produtos básicos e de produtos industrializados foram equilibradas em torno dos US$ 21,5 bilhões para cada tipo. Para a China, 83% dos recursos obtidos com as exportações são oriundos dos produtos básicos (US$ 25,7 bilhões).
“Os países da América Latina têm que ficar prudentes. Se houver nova queda ou crescimento medíocre [nas economias desenvolvidas] haverá repercussão no comércio exterior”, disse à Agência Brasil o economista Carlos Mussi, do escritório da Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (Cepal), em Brasília.
A Cepal avalia que até o final desta década o comércio Sul-Sul (entre os países em desenvolvimento) será maior que o comércio entre os países desenvolvidos (Norte-Norte). “Os motores da economia mundial dependerão cada vez mais do dinamismo das economias emergentes e do comércio e dos investimentos Sul-Sul”, prevê a síntese do Panorama da Inserção Internacional da América Latina e o Caribe 2010-2011, publicado recentemente pela Cepal.
Esse cenário, no entanto, não é imune aos efeitos da diminuição de ritmo das economias centrais. “Boa parte da base de comércio de países como a China são os países desenvolvidos. Vai ter impacto e a China vai sentir. Como é que ela vai reagir a isso?” pergunta Mussi. “Outros países, como o México, que têm alta dependência dos Estados Unidos, será que conseguem diversificar seus parceiros a tempo?”, acrescentou.
Edição: Andréa Quintiere