Paulo Virgilio
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Três documentários da cineasta e psicóloga moçambicana Isabel Noronha serão exibidos hoje (2), às 19h, no auditório da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro (SBPRJ), no Humaitá, zona sul do Rio, em sessão aberta ao público e com entrada franca. Os filmes Mãe dos Netos, Trilogia das Novas Famílias e Salani (Adeus) relatam os dramas de adultos, adolescentes e crianças afetados por questões cruciais para esse país africano como aids, exploração sexual, pobreza e as consequências da guerra civil, que deixou 1 milhão de mortos e milhares de órfãos e mutilados.
A exibição faz parte da atividade cultural Cinema & Psicanálise, realizada há 12 anos pela SBPRJ, sempre apresentando filmes motivadores de reflexão, seguidos de debate. A abordagem não é exclusivamente psicanalítica. Filósofos, historiadores, professores de literatura, críticos de cinema e artistas costumam figurar entre os debatedores convidados pela entidade.
O debate após a exibição dos documentários africanos terá com o mediador o psicanalista Ney Marinho, que coordena o programa de intercâmbio da SBPRJ com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Segundo ele, os filmes são de grande valor estético e fazem parte de um projeto mais amplo da diretora Isabel Noronha. “Cineasta e também psicóloga, ela usa o cinema como uma forma terapêutica, o videodrama. A participação no documentário de personagens reais, que vivenciaram o drama que é o tema do filme, propicia uma espécie de catarse, de recuperação de experiências emocionais que ajudam as pessoas a superar seus traumas”, explica.
O intercâmbio com a CPLP, fruto de contatos que vinham sendo mantidos há anos pela SBPRJ, se concretizou a partir de 2009, quando houve um primeiro encontro no Rio, com o apoio do Ministério das Relações Exteriores e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Representantes dos oito integrantes da Comunidade – Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor Leste – discutiram a questão da saúde mental em seus países.
“A proposta não é de um intercâmbio meramente científico, mas científico-cultural, porque envolve a participação de diplomatas, professores universitários, professores de literatura, além, é claro, de psicanalistas, médicos e outros profissionais de saúde”, afirma Ney Marinho. Segundo ele, a ideia é que questões como a violência contra a mulher, a pedofilia, a aids, os traumas da desigualdade social e das guerras sejam tratadas nesse intercâmbio não apenas sob o ponto de vista psicanalítico.
Em abril deste ano, foi realizado o segundo encontro em Maputo, na capital de Moçambique, tendo como tema central Sexualidade e Agressividade em Nosso Tempo e em Nossas Culturas. Com oito países espalhados por quatro continentes, a CPLP permite uma abordagem variada dessas questões. “Temos uma oportunidade de pesquisa muito grande, porque há enorme diversidade cultural entre os países-membros”, diz. O próximo encontro do intercâmbio será em 2013, em Cabo Verde.
Edição: Graça Adjuto