Da BBC Brasil
Brasília - O embaixador do Brasil no Egito, Cesario Melantonio Neto, responsável pelas negociações com o Conselho Nacional de Transição (CNT) da Líbia, controlado pela oposição, não acredita que as empresas brasileiras, chinesas e russas serão preteridas pelo governo provisório líbio para favorecer companhias de países que apoiam a missão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
"Eles [os líderes da oposição] disseram-me que têm um ótimo conceito das empresas brasileiras e que querem que elas continuem no país", disse o embaixador. "A reputação das empresas brasileiras é boa tanto por causa da qualidade dos serviços quanto pelo comportamento dos funcionários”, destacou.
O Brasil foi contrário à resolução da Organização das Nações Unidas que aprovou a zona de exclusão aérea na Líbia e autorizou a ação da Otan em março. Por enquanto, o Brasil também não reconheceu o CNT como governo de fato da Líbia.
Para o embaixador, porém, as relações entre os dois países devem se manter cordiais devido aos interesses mútuos, como a questão da segurança alimentar. Segundo ele, a Líbia e os países árabes em geral, em função do terreno árido e pouco fértil, são importadores estruturais de alimentos e se beneficiam da relação com o Brasil - um dos maiores exportadores mundiais de produtos agrícolas. "As relações são de interesse dos países, estão acima de governos", disse Melantonio Neto.
Antes do início dos conflitos na Líbia, havia quatro empresas brasileiras com operações no país: Odebrecht, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Petrobras. Elas empregavam centenas de brasileiros e estrangeiros, que foram retirados do país após a intensificação dos combates.
Para Melantonio Neto, empresas de construção civil terão mais facilidade para voltar à Líbia
Segundo ele, o maquinário das empresas ficou sob a guarda de empregados líbios e deve estar em segurança.
O embaixador avalia que, das quatro empresas brasileiras na Líbia, as três empreiteiras são as que têm as maiores chances de retomar as atividades rapidamente. "Elas são responsáveis por obras de construção civil, de infraestrutura, como estradas, redes de esgoto, ramais rodoviários, que já haviam sido iniciadas e que são de grande interesse à população", disse.
No caso da Petrobras, no entanto, ele vê mais dificuldades - não pelo fato de ser uma empresa brasileira, mas por ser do setor de energia, área considerada estratégica e que pode passar por alterações com a mudança do regime. O embaixador disse que a retomada dos contratos não estará entre as prioridades do CNT após a consolidação de seu poder sobre o país.
"A primeira prioridade será a segurança e depois o restabelecimento dos serviços básicos que foram afetados pelo conflito. Depois disso, precisarão estabelecer o arcabouço institucional do país, com eleições, uma nova Constituição. Só depois vão pensar nos contratos, e isso pode levar meses", disse.
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