Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Moradores de rua e representantes de entidades da sociedade civil fizeram um ato hoje (19), Dia Nacional da População e Rua, para lembrar os sete anos do massacre de agosto de 2004, quando 15 moradores de rua foram atacados no centro de São Paulo e sete morreram. Durante o protesto, ocorrido no Vale do Anhangabaú, região central da capital paulista, os manifestantes reivindicaram políticas públicas para a população de rua.
Segundo o coordenador do Movimento Nacional da População de Rua, Anderson Lopes Miranda, a ideia é lembrar que ainda não houve justiça com relação aos ataques e morte dos moradores de rua. “Não foi só em São Paulo, foi para outros estados. Tivemos 32 pessoas mortas em um ano e essa violência vem acontecendo. Em 2010 tivemos seis pessoas mortas na zona Norte”.
Além da justiça com relação aos ataques, Miranda disse que o objetivo é reivindicar que sejam colocadas em prática as políticas públicas já elaboradas pelo governo federal. “Queremos que essa política pública seja reconhecida e que os estados e municípios criem o comitê dessa população para discutir a problemática e orçamentos para executar as políticas públicas”.
Miranda enfatizou que três são as questões básicas: trabalho, saúde e moradia. Segundo ele, grande parte dos moradores de rua está doente e precisa de atendimento especializado e direcionado. “Há muitos com transtornos mentais, dependentes de álcool e drogas, outros morrendo por doenças que a rua traz. É preciso também sensibilizar os empresários a contratarem essas pessoas. E o mercado imobiliário tem que ser sensível e baixar os preços para que essas pessoas possam ter moradia digna”.
Segundo o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, depois de sete anos muitas foram as conquistas, como a existência de uma política nacional para a população de rua, mas a luta atual é para a sua aplicação. “Conseguimos os marcos legais, mas precisamos que eles tenham interferência na realidade e ajudem a transformar a situação dessas pessoas. A saúde mental ainda é muito frágil, ainda precisamos de políticas mais claras na habitação e trabalho”.
De acordo com o Movimento Nacional de População de Rua, em São Paulo há 13.666 pessoas em situação de rua, com 9 mil atendidas em centros de acolhida e o restante dormindo nas ruas.
Marivaldo da Silva Santos, de 36 anos contou que chegou às ruas pelas mãos da tristeza, da depressão e do envolvimento com álcool e drogas. O que o tirou das ruas foi um programa da prefeitura que estimulava moradores de rua a desenvolverem a atividade de agentes comunitários.
“Quando eu estava nas ruas não imaginava que havia movimentos que se preocupavam com essa questão e me sensibilizei a trabalhar na área”. Santos voltou a estudar e hoje está no curso de serviço social e trabalha com técnico em projetos ambientais e sociais. “A grande vitória é saber que a população de rua está sendo vista não só como aquela que precisa de alimentação e dormida. Ela precisa de trabalho, educação, cultura, lazer e saúde”.
Edição: Rivadavia Severo