Integração das polícias com programas sociais pode ajudar na localização de crianças e adolescentes desaparecidos

29/07/2011 - 18h54

Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Há dois anos a doméstica Maria Zélia Soares Augusto procura pelo filho desaparecido em Diadema, no ABC Paulista, onde a família reside. No dia 27 de setembro de 2009, aos 23 anos de idade, Amadeus César Augusto, que é portador de deficiência mental, desapareceu. A partir daí começou a maratona dos parentes para localizá-lo.

Maria Zélia, que participou hoje (29) do 1º Seminário de Enfrentamento às Situações de Desaparecimento de Crianças e Adolescentes, em São Bernardo do Campo e na região do ABC, disse que já procurou pelo filho em vários lugares, inclusive na Baixada Santista. “Em Santos eu já fui três vezes porque recebi telefonemas de casas de apoio que diziam que havia um rapaz com as características dele por lá”. Ela acredita que, agora, com o apoio da Fundação Criança de São Bernardo do Campo, vai ficar mais fácil encontrá-lo.

De acordo com dados do Programa Reencontro da Fundação, em 2010 foram registrados 596 boletins de ocorrência de desaparecimento de crianças e adolescentes na região do ABC. De janeiro a julho de 2011, só em São Bernardo, foram 118 casos, sendo 79 meninas e 39 meninos. Nos últimos cinco anos, a média de desaparecimentos tem sido de mais de 200 casos anuais. O presidente da Fundação Criança, Ariel de Castro Alves, ressaltou que o seminário objetiva proporcionar uma integração do trabalho das polícias Civil e Militar com os programas sociais do município e do ABC de forma geral.

“Nós temos uma atuação conjunta das sete cidades, e nossa pesquisa mostra que, no ABC, há uma incidência grande de casos. A partir do trabalho inciado em 2006, em São Bernardo, temos conseguido bons resultados. Na medida em que a polícia nos encaminha o boletim de ocorrência, nós fazemos contato com a família e, a partir das causas do desaparecimento, trabalhamos para encontrar essa criança ou adolescente. Só do anos de 2007, nós temos 2% dos casos que ainda precisam ser solucionados. Atualmente temos 9 casos em andamento”.

Alves declarou ainda que o número de desaparecidos é maior entre as meninas, porque, muitas vezes, o desaparecimento ocorre por causa de conflitos familiares que, em sua maioria, estão relacionados com a violência doméstica ou sexual. Outro motivo, segundo ele, são os namoros de adolescentes com adultos, que não são aceitos pela família, levando a menina a fugir de casa para morar com o namorado.

O presidente da Fundação Criança ressaltou que sem uma integração dos órgãos públicos com as instituições sociais e privadas é impossível fazer um trabalho de busca efetiva, com a identificação e localização dos desaparecidos. “O que ocorre hoje é que as famílias ficam sozinhas procurando. Elas fazem o boletim de ocorrência, em alguns locais as delegacias se negam a fazer imediatamente, e depois o registro fica parado no distrito policial. Precisamos de um sistema integrado”.

O Projeto de Lei nº 463/2011, em tramitação na Assembleia Legislativa de São Paulo, prevê essa integração, segundo o seu relator, deputado Hamilton Pereira. De acordo com ele, o projeto de lei determina que seja criado um banco de dados integrado à rede Infoseg da Secretaria de Nacional de Segurança Pública, para o desenvolvimento de um sistema de informações, com transferência de dados e comunicação em rede entre os órgãos envolvidos no trabalho de localização das pessoas desaparecidas.

Pereira disse ainda que o banco de dados armazenará, entre outras informações, as características físicas do desaparecido, além de tipagem sanguínea, amostras de DNA, para, dessa maneira, poder cruzar os dados com os de pessoas que sejam encontradas e não tenham condições de dizer quem são. “Quando encontra-se alguém doente na rua, ou um corpo, é preciso que possamos combinar as características dessa pessoa com as informações que já temos dos parentes”.

Anelise Buzzi Serpi, psicóloga executora técnica do Projeto de Avaliação e Sistematização de Práticas que promovam a busca e a localização de crianças e adolescentes em São Bernardo, disse que a criança ou adolescente que retorna ao lar nunca será a mesma que saiu, porque, dependendo do tempo que ela ficar ausente, pode passar por situações de violência e de mendicância. “Essa vivência implicará em sua subjetividade, por isso ela não será mais a mesma. Assim como a família não pode esperar receber a mesma pessoa em casa”.

 

Edição: Aécio Amado