Gilberto Costa
Enviado Especial
Goiânia (GO) – Ao fazer palestra hoje (15) durante a 63ª Reunião Anual da Sociedade para o Progresso da Ciência (SBPC), o físico Luiz Pinguelli Rosa, diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), disse que faltou ao governo chegar a um acordo com a sociedade sobre os termos para construir a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA). Para ele, o empreendimento se transformou “em um problema mal resolvido”.
De acordo com ele, Belo Monte não terá um impacto tão grande quanto tem sido mencionado. “O governo deveria ter consultado a sociedade” sobre a construção da usina, reforçou o físico durante o evento, que termina hoje em Goiânia.
Mais de uma dezena de ações do Ministério Público contestam o empreendimento - maior obra em andamento no país - na Justiça. Promotores de Justiça e procuradores questionam fundamentalmente a tramitação do licenciamento ambiental. O lago da usina afetará índios e populações tradicionais da região no oeste do Pará. Segundo a Constituição, o Congresso Nacional só poderia autorizar a obra após consultar os indígenas.
Apesar da falta de consulta, Pinguelli defende a exploração dos rios brasileiros como fonte renovável, sob o argumento de que eles têm vantagens comparativas em relação a outras formas de geração de energia elétrica. Segundo especialistas, o país tem o maior potencial hidrelétrico do mundo (especialmente na Amazônia); a tecnologia dura mais que as usinas eólicas e solar; a construção emite menos gases que as usinas movidas a carvão, óleo ou gás; e o custo é menor do que o da usina nuclear.
Pinguelli calcula que a construção da Usina Nuclear Angra 3, no litoral do Rio de Janeiro, terá um custo final de US$ 5 mil por quilowatt gerado, cinco vezes mais do que o custo do quilowatt de Belo Monte. Para ele, após os incidentes em usinas nucleares no Japão, causadas por um tsunami, o país deve repensar a construção de usinas nucleares. Há previsão de construção de mais quatro usinas.
Embora tenha alto potencial elétrico e haja grandes projetos em andamento (além de Belo Monte, há os projetos das usinas Santo Antônio e Jirau no Rio Madeira, em Rondônia), a participação da energia hidrelétrica diminuirá no conjunto das fontes de energia geradas no país, projeta Pinguelli. A participação deverá ser de 71% em 2015 – 8,3 pontos percentuais a menos do que era em 2010. Segundo o físico, o uso de energia eólica crescerá de 0,8% para 3,8% de participação, mas também haverá aumento das usinas poluentes movidas a carvão, a óleo e a gás.
Edição: João Carlos Rodrigues