Da BBC Brasil
Brasília - O governo dos Estados Unidos disse que irá suspender o auxílio militar equivalente a US$ 800 milhões (cerca de R$ 1,2 bilhões) que destinaria ao Paquistão.
O chefe de Gabinete da Casa Branca, Bill Daley, disse, em entrevista à rede americana ABC, que o Paquistão ''tomou algumas medidas que deram motivo para interromper parte da ajuda''.
Ele afirmou que o ataque realizado por forças americanas e que resultou na morte do líder da rede Al Qaeda, o militante Osama Bin Laden, em maio deste ano, havia afetado as relações dos dois países, mas que os laços entre americanos e paquistaneses serão ''aprimorados com o tempo''.
A cifra de US$ 800 milhões representa aproximadamente um terço do total que os Estados Unidos destinam em auxílio militar ao Paquistão.
Segundo dados apresentados pelo Paquistão ao Fundo Monetário Internacional (FMI) no ano passado, o orçamento militar do país relativo ao período de 2010 e 2011 foi US$ 6,4 bilhões, um aumento de US$ 1,2 bilhões em relação ao ano anterior.
Ainda durante a entrevista à rede ABC, Daley admitiu que o Paquistão tem sido ''um importante aliado na guerra contra o terrorismo. Eles têm sido vítimas de muito terrorismo''.
Mas acrescentou que se trata de uma ''relação complicada em um canto do mundo difícil e complicado”. “Obviamente, ainda existe muita dor sentida por parte do sistema político do Paquistão devido à operação que realizamos para nos livrar de Osama Bin Laden, algo sobre o qual o presidente [Barack Obama] tem fortes sentimentos e algo que não lamentamos''.
O governo do Paquistão vem criticando os ataques com drones (aviões não tripulados) americanos e as ações não comunicadas aos paquistaneses por parte dos americanos, como a operação militar que resultou na morte de Bin Laden.
Muitos congressistas dos Estados Unidos vinham criticando a concessão do auxílio militar, especialmente depois de ter vindo à tona que Bin Laden passou muito tempo refugiado em uma casa situada na vizinhança da principal academia militar do Paquistão, em Abbottabad.
Segundo Rajesh Mirchandani, um correspondente da BBC em Washington, a medida por parte do governo americano representa um endurecimento em relação ao Paquistão. Mas pode ter efeitos opostos aos desejados.
Em vez de sinalizar que os paquistaneses precisam mostrar mais empenho em combater militantes extremistas e procurar rastrear fontes dentro do Exército que teriam laços com ativistas radicais, pode fazer com que o governo do Paquistão se sinta compelido a ir no sentido oposto – empenhar-se menos na colaboração e acabar tendo menos poder para levantar quem seriam os agentes infiltrados.
Washington ainda considera o Paquistão um aliado vital na luta contra a Al Qaeda e contra insurgentes da milícia Talibã em áreas tribais na fronteira do país com o Afeganistão.