Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A 9ª Feira Literária Internacional de Paraty (Flip) será aberta hoje (6) à noite, tendo como grande homenageado o escritor Oswald de Andrade, um dos organizadores da Semana de Arte Moderna, que ocorreu em São Paulo, em 1922. Andrade é autor de dois dos mais importantes manifestos modernistas (Manifesto da Poesia Pau-Brasil e o Manifesto Antropófago), além do primeiro livro de poemas do modernismo brasileiro (Pau-Brasil), que rompeu com a eloquência romântica vigente até então.
O curador da Flip, Manuel da Costa Pinto, destacou que, embora tenha a mesma estrutura das edições anteriores, o evento deste ano se diferencia por mostrar “uma coesão grande entre todas as mesas relativas a Oswald de Andrade e também quanto à programação, que não é constituída por mesas [de debate]”.
A conferência de abertura sobre Oswald de Andrade terá a participação do compositor José Miguel Wisnik e do crítico literário Antonio Candido. Em seguida, haverá um show do próprio Wisnik, de Celso Sim e da cantora Elza Soares, em continuidade às celebrações em torno do escritor, que morreu em 22 de outubro de 1954. A apresentação homenageará também o diretor, autor e ator teatral José Celso Martinez Corrêa. “Foi quem, nos anos 60, encenou pela primeira vez [a peça] O Rei da Vela, de Oswald de Andrade, lançando luz sobre uma parte pouco conhecida da obra do escritor”, disse Costa Pinto à Agência Brasil.
A interligação das atividades relacionadas a Oswald de Andrade dá a tônica à Flip 2011, ressaltou o curador. “De tal modo que você tem a conferência de abertura ligada ao show de abertura e este conectado também à peça de encerramento da Flip”. Além disso, estão previstas duas mesas na programação principal sobre o escritor, assim como a encenação da peça Tarsila (que aborda a vida da pintora Tarsila do Amaral, que foi mulher de Oswald de Andrade), de autoria de Maria Adelaide Amaral.
Manuel da Costa Pinto salientou ainda que esta edição da Flip será marcada por uma linha que percorrerá todas as mesas de debate, abordando as variações do romance como gênero literário. A ideia é mostrar que o romance “é um gênero que se renova constantemente”.
Segundo o curador, a capacidade que o romance tem de se recriar é traduzida pela participação de autores que trabalham com esse gênero literário de diversas maneiras. Os destaques vão desde o romance policial do norte-americano James Ellroy até as obras do baiano João Ubaldo Ribeiro, considerado sintetizador das vertentes do romance brasileiro nas últimas décadas. Também terão espaço o romance mais experimental de Valter Hugo Mãe, de Portugal e escritores que trabalham com vivências pessoais, memórias ou traumas familiares, como o húngaro Péter Esterházy e o francês Emmanuel Carrère.
O curador destacou também a importância da feira de Paraty para o cenário cultural nacional. “A Flip introduz uma nova modalidade de interação entre os autores e os leitores. Ela criou uma forma diferente, seja na própria informalidade das mesas, seja nos critérios de escolha”. Costa Pinto observou que os autores convidados a participar da feira não são necessariamente ligados ao mercado editorial nem obrigatoriamente lançam livros durante o evento. “No caso da Flip, não existe essa vinculação imediata.”
Para Costa Pinto, a feira teve um impacto forte no cenário cultural do Brasil, na medida em que abriu espaço para uma nova forma de se fazer evento literário no país, que acabou originando outros eventos semelhantes. Segundo ele, a experiência de o leitor sair de seu município por alguns dias e se deslocar para uma cidade histórica como Paraty, “para ficar imerso em literatura, é algo indescritível”.
“A pessoa passa a interagir e a ficar totalmente impregnada de literatura, o que é uma condição muito rara e instigante. É uma experiência profunda da vida literária e do livro”, ressaltou. A 9ª Flip se estenderá até o próximo domingo (10).
Edição: Juliana Andrade