Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Uma eventual fusão entre os grupos varejistas Pão de Açúcar e Carrefour precisa ser muito bem definida para que os consumidores não sofram prejuízos, segundo a Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste).
“Principalmente quando você está falando de um mesmo segmento, porque está tendo aí um grande percentual de concentração”, disse à Agência Brasil a coordenadora institucional do Proteste, Maria Inês Dolci. Ela citou como exemplo a fusão entre os frigoríficos Sadia e Perdigão, do setor de alimentos.
“Quando você tem uma concentração grande e redução de mercado, há menos opções para o consumidor e nem sempre o preço é benéfico”, acrescentou Maria Inês. Segundo ele, a redução da concorrência torna o consumidor, às vezes, refém das empresas que têm um ganho grande em termos de escala, isto é, têm um poder de compra melhor e nem sempre repassam os benefícios aos clientes.
Maria Inês Dolci mostrou preocupação com a possibilidade de uma diminuição da concorrência resultar em alteração de preços que não beneficie o consumidor. “Sem contar que ele não vai ter qualquer opção ou forma de escolher no mercado e de trazer concorrência para aquele setor, para ter melhoria na qualidade, investimentos em tecnologia. Esse é o ponto que preocupa a Proteste.”
O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) também manifestou temor com relação à elevação dos preços. Segundo o gerente de Informação do Idec, Carlos Thadeu de Oliveira, "a concentração no varejo pode levar a uma elevação dos preços, já que diminui a concorrência e as margens de negociação entre fabricantes e comércio ficam mais estreitas”.
Na avaliação do professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ), Frederico Rocha, a fusão entre as redes supermercadistas Pão de Açúcar e Carrefour “implica uma concentração de mercado substantiva”.
Segundo ele, o primeiro problema que a fusão pode trazer é o aumento dos preços, “porque as empresas ganham maior poder de monopólio”. Essa deve ser, enfatizou, a preocupação principal das autoridades da área de defesa da concorrência.
Para ele, essa concentração pode significar a redução de capacidade produtiva no Brasil. “Acho que vai reduzir o número de lojas e, por isso, pode haver impactos negativos sobre o emprego”.
Rocha informou que cada companhia tem entre 15% e 20% do mercado e a junção das duas redes poderá acarretar maior concentração nacional. “Isso só pelo lado da fusão”. Embora a união das duas redes signifique uma concentração de 30% em todo o país, em algumas localidades ela pode atingir até 80% ou 90% do mercado, acrescentou o professor.
Edição: João Carlos Rodrigues