Mais da metade dos alunos do ensino médio no Rio têm baixo desempenho em matemática

19/06/2011 - 14h02

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - O ensino de matemática nas escolas fluminenses de nível médio pede socorro. Dados divulgados na última segunda-feira (13) revelam que mais da metade dos alunos aprenderam apenas um terço do conteúdo ensinado em sala de aula nos primeiros dois meses de 2011.

A constatação foi feita pela Secretaria Estadual de Educação que, em abril, aplicou provas de português e matemática para os alunos do 5º ao 9º ano do ensino fundamental e para as três séries do ensino médio de escolas públicas. O resultado mostra que é preciso reforçar o ensino de matemática em todos os níveis. Principalmente, no primeiro ano do ensino médio.

De acordo com a secretaria, 71% dos alunos do 1º ano não conseguiram acertar nem um terço da prova. Já no 2º e no 3º, o percentual era 66% e 52%, respectivamente. Chama a atenção a queda do aprendizado entre o 9º ano do ensino fundamental (o último ano), quando 31% estavam abaixo da média, e o 1º ano do ensino médio, quando 71% dos alunos apresentam déficit de conteúdo.

Na avaliação da secretaria, o ensino de matemática no 9º ano é fraco e os alunos demonstram a deficiência no 1º ano do ensino médio. Mas para o diretor do Instituto de Matemática da Universidade Federal Fluminense (UFF), Celso José da Costa, a queda de desempenho reflete problemas estruturais desde os primeiros anos da educação básica.  

"No caso da matemática, há um salto de complexidade de um ano para o outro. Nesse momento, detecta-se no aluno toda a falha de conteúdo dos anos anteriores", afirmou. "O estudante chega de forma precária no 9º ano do [ensino] fundamental, mas, sem dominar o conteúdo prévio, ele não vai conseguir seguir com coisas mais abstratas no ensino médio", explicou.

Por outro lado, a secretaria explica que a aparente queda do percentual de alunos abaixo da média no 2º e 3º ano também não é um sinal de avanço e se deve à reprovação dos mais fracos.

Segundo o Sindicato Estadual dos Professores do Rio (Sepe), os alunos não têm nenhum problema para fixar o conteúdo. O baixo nível de aprendizado reflete a precarização do trabalho em turmas lotadas, nas quais não é possível identificar as dificuldades dos alunos, além da falta de profissionais. "É um problema cumulativo", acrescenta um dos diretores da instituição Alex Trentini.

O relatório com o desempenho dos alunos na prova também mostra que o aprendizado em língua portuguesa diminui muito de um nível de ensino para o outro, mas não na mesma proporção que ocorre em matemática. Em português, chama a atenção o fato de 31% dos alunos do 2º ano do ensino médio não atingirem a média de acertos de um terço da prova.

"A matemática e o português são um reflexo da escola. Se está ruim nessas duas matérias, está ruim em geografia, biologia e física. Está ruim em tudo", completou o diretor do Instituto de Matemática. Para Celso, corrigir o problema também passa pela melhor remuneração e formação de docentes, que precisam ser mais dinâmicos e criativos "para apresentar conteúdos abstratos", disse.

A avaliação da Secretaria de Educação é aplicada a cada dois meses e serve para monitorar o desempenho dos alunos e identificar as lacunas de aprendizado. A ideia é elevar o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do estado do Rio que ocupa um dos últimos lugares no ranking.

 

Edição: Lílian Beraldo