Da BBC Brasil
Brasília - O processo de identificação dos 104 restos mortais das vítimas do voo AF 447 da Air France, que caiu no Oceano Atlântico em maio de 2009, deverá começar no dia 17 ou no mais tardar no sábado (18). Mas o diretor do Instituto de Pesquisas Criminais da Polícia Militar (IRCGN, na sigla em francês), coronel François Daoust, alertou que o processo poderá levar meses. As vítimas eram de 33 nacionalidades, sendo a maioria de franceses (72), brasileiros (59) e alemães (26).
O instituto, especializado na identificação de vítimas de catástrofes, comandará esses trabalhos, que estão sob a autoridade da Justiça francesa. No total, 154 corpos dos 228 que estavam a bordo do avião, que fazia a rota Rio de Janeiro-Paris, foram resgatados. Os primeiros 50, sendo 20 deles de brasileiros, foram retirados do mar logo após a catástrofe, em 31 de maio de 2009.
Segundo o coronel Daoust, o material coletado entre maio e o início deste mês podem não representar 104 vítimas. Alguns dos restos mortais podem ser de um mesmo passageiro, segundo o especialista. Isso ocorreu em 2009, quando o número de corpos resgatados na época, inicialmente de 51, foi revisado para 50 após a conclusão de que um dos restos mortais pertencia a uma das vítimas identificadas.
O instituto francês já dispõe das informações necessárias à identificação e do DNA dos parentes das vítimas europeias e de quase todas as outras nacionalidades, com exceção das brasileiras, de acordo com o coronel Daoust. “Aguardamos os dados do Brasil. Isso será resolvido em breve. Os dois juízes franceses estão em contato com a Justiça brasileira para a transferência das informações e do DNA à França”, afirmou.
No Brasil, a associação das famílias das vítimas defendeu um novo processo de coleta de DNA. O processo de identificação dos corpos será feito de acordo com um protocolo científico e jurídico rigoroso, afirmou o diretor do IRCGN. Os corpos são provas no processo em trâmite na Justiça francesa, que indiciou a Airbus e a Air France por homicídio culposo.
Daoust afirmou que o processo de identificação deverá levar “semanas ou até mesmo meses”. Ele lembrou que as identificações das 50 vítimas em 2009 demoraram dois meses. “Os corpos, naquela época, estavam menos deteriorados do que os resgatados recentemente, que ficaram dois anos a 3,9 mil metros de profundidade”, afirmou.
Após os exames de especialistas, os dados serão inseridos em um software utilizado pela Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), que irá propor algumas identificações possíveis. Só então uma comissão, formada por biólogos, dentistas e especialistas em identificação, estudará caso por caso. Todos devem estar de acordo para que um corpo possa ser identificado.
Segundo Daoust, dois observadores brasileiros vão acompanhar todo o processo. O resgate dos corpos divide as famílias. Para algumas, o processo representa um novo luto. Parentes que perderam mais de um ente querido temem não recuperar todos os corpos.
Amanhã (15) integrantes das associações das famílias das vítimas, incluindo a brasileira, reúnem-se em Paris com autoridades francesa para obter informações sobre o processo de identificação dos corpos e também sobre as investigações do acidente.