Da BBC Brasil
Brasília - Mais de 4,3 mil civis sírios fugiram para o Norte do país e atravessaram a fronteira com a Turquia para escapar dos conflitos violentos entre manifestantes e forças do governo. As autoridades turcas disseram hoje (11) que os números podem ser ainda maiores, já que muitas pessoas não foram registradas na fronteira.
Halit Cevik, do Ministério das Relações Exteriores da Turquia, disse que por enquanto o país está conseguindo lidar com a situação, mas que as autoridades podem vir a precisar de ajuda internacional, caso o conflito na Síria se agrave. A Turquia não considera os sírios que fugiram como "refugiados", já que eles não pediram para ficar no país e estão apenas esperando a violência acabar para voltar para a Síria.
Manifestantes da oposição afirmam que pelo menos 32 pessoas foram mortas na sexta-feira (10) em novos confrontos entre opositores e forças do governo. A violência começou quando as forças do governo entraram na cidade vizinha de Jisr Al Shughour, onde o governo afirma que mais de 120 militares foram mortos por rebeldes nesta semana.
Nessa sexta-feira, os Estados Unidos e as Nações Unidas condenaram a forma violenta como o governo sírio vem reagindo aos protestos contra o regime do país. Em um pronunciamento, o porta-voz Jay Carney disse que o governo da Síria está seguindo "um caminho perigoso" e pediu "o fim imediato da brutalidade e da violência". O governo americano classificou os atos na Síria de "revoltantes".
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que o uso de força militar para conter protestos na Síria é "inaceitável". Um porta-voz do secretário disse que ele tentou conversar com o presidente sírio, Bashar Al Assad, mas que o governo vem reiterando que o líder não está "disponível".
A Síria vem impedindo que jornalistas internacionais cubram os protestos no país, o que dificulta o trabalho de checagem das informações divulgadas por manifestantes e pelo governo.
Manifestantes afirmaram que o pior ataque ocorreu na cidade de Maarat Al Numan, no Norte da Síria, quando tanques abriram fogo contra a multidão, matando e ferindo diversas pessoas que participavam do protesto. A TV estatal síria divulgou que grupos armados atacaram delegacias da cidade.
Segundo os ativistas, 11 pessoas morreram na província de Idlib, a maioria na cidade de Maarat Al Numan, onde helicópteros teriam sido usados para atacar os manifestantes. Se confirmado, será o primeiro ataque aéreo desde que começou a onda de protestos no país, há três meses.
Ontem foi um dia de manifestações contra o regime de Assad em diversas partes do país, após o período de orações. Desde março, protestos em massa contra o presidente sírio, Bashar Al Assad, se tornaram comuns após as orações de sexta-feira. Manifestantes foram mortos em pelo menos três lugares: na cidade costeira de Latakia, na província de Deraa, no Sul, e em Qaboun, próximo à capital Damasco.
Em entrevista à TV, o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, condenou a repressão do governo sírio e disse que as ações militares são "desumanas". A Turquia tem sido o destino imediato de sírios que tentam fugir do conflito.
Erdogan informou que discutiu o assunto recentemente com o presidente Bashar Al Assad, mas alegou que a receptividade do vizinho foi "inadequada".
Grupos de ajuda humanitária afirmam que mais de 1,3 mil pessoas – a maioria, civis desarmados - já morreram durante protestos contra o governo. O governo refuta e diz que 500 membros das forças de segurança foram mortos.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha pediu acesso imediato à população afetada pela violência e também aos detidos e feridos. Por ora, a entidade montou um campo na Turquia capaz de abrigar 5 mil pessoas.