Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Uma pesquisa de campo coordenada pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) está mapeando 173 comunidades quilombolas do país, com objetivo de verificar a situação em cada uma delas e de medir o desenvolvimento de 5 mil crianças até 5 anos de idade. O último levantamento ocorreu em 2006, em 60 quilombos, e mostrou que quase 50% das crianças estavam em risco de déficit nutricional, com 15% delas apresentando retardo de crescimento.
A divulgação do estudo, que teve a participação da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), está prevista para dezembro deste ano e deverá trazer dados inéditos sobre 11 mil famílias que vivem nessas comunidades em todas as regiões do país. A pesquisa iniciada em março é desenvolvida por técnicos da Universidade Federal Fluminense (UFF), que passam nas casas entrevistando e contando os moradores. Já foram praticamente concluídas as visitas nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste e os trabalhos agora se concentram na Região Centro-Oeste, para depois chegar à Norte. O levantamento abrange 55 municípios em 14 estados.
“A pesquisa pretende atualizar o quadro de segurança alimentar de que a gente dispõe nas comunidades quilombolas. Na pesquisa realizada em 2006, identificamos que as crianças quilombolas estavam muito piores em relação à média nacional em termos de nutrição. Em peso e altura, as quilombolas apresentavam déficit nutricional na comparação com outras crianças”, disse a cientista social Junia Quiroga, da Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação do Ministério do Desenvolvimento Social.
Junia ressaltou que a realização da pesquisa ganha importância por se inserir no programa de combate à miséria que será lançado pelo governo federal, revelando a situação de comunidades isoladas, a maioria no interior do país.
Os pesquisadores usaram tecnologia moderna para apontar com exatidão onde estão os problemas.
“Vamos registrar com georreferenciamento todos os domicílios e equipamentos sociais, para saber se os serviços - como posto de saúde, escola, assistência social – estão perto dos locais onde moram as famílias. O objetivo é mapear o acesso que elas têm às políticas públicas.”
O trabalho do MDS só inclui quilombos que já tenham conseguido a titulação das terras. Segundo a cientista social, a estimativa é que existam cerca de 2 mil quilombos no país, mas muitas comunidades não estão registradas. Uma das características fundamentais de um quilombo é a posse coletiva da terra. As comunidades foram criadas no passado por escravos negros rebelados, que fugiam para o interior, onde formavam grupos que até hoje sobrevivem, mantendo os laços culturais e afetivos entre seus moradores.
Edição: João Carlos Rodrigues