Da BBC Brasil
Brasília - Os preços de alimentos básicos devem mais do que dobrar em 20 anos, a não ser que líderes mundiais promovam reformas, alertou hoje (30) a organização não governamental (ONG) britânica Oxfam.
Até 2030, o custo médio de colheitas consideradas chave para a alimentação da população global vai aumentar entre 120% e 180%, prevê a organização em seu relatório Growing a Better Future (Plantando um Futuro Melhor).
Metade desse aumento de custos deverá ser creditada a mudanças climáticas. Sendo assim, para a Oxfam, é preciso que os líderes globais trabalhem tanto para regular os mercados de commodities como para a criação de um fundo climático global.
“O sistema [de negociação] de alimentos deve ser revisto se quisermos superar os crescentes desafios relacionados a mudanças climáticas, aumentos no preço da comida e falta de terras, água e energia”, disse Barbara Stocking, executiva chefe da Oxfam.
No relatório, a Oxfam ressalta quatro áreas de alta insegurança alimentar – locais onde já existem dificuldades para alimentar os habitantes.
O primeiro deles é a Guatemala, onde 850 mil pessoas são afetadas pela falta de investimentos estatais em pequenos agricultores e pela alta dependência de alimentos importados, diz a ONG.
O segundo é a Índia, onde a população gasta em comida duas vezes mais que cidadãos britânicos (proporcionalmente ao que recebem de salário). Um litro de leite pode custar cerca de R$ 26 na Índia.
Em terceiro, a Oxfam cita o Azerbaijão, onde a produção de trigo caiu 33% no ano passado em decorrência de más condições climáticas, forçando o país a importar grãos da Rússia e do Cazaquistão. Os preços dos alimentos no país subiram 20% em dezembro de 2010 em comparação com o mesmo mês do ano anterior.
Em quarto está o Leste da África, onde 8 milhões de pessoas enfrentam atualmente falta crônica de alimentos por causa da seca. Mulheres e crianças estão entre os mais afetados.
O Banco Mundial também advertiu que o aumento nos preços dos alimentos está levando milhões de pessoas para a pobreza extrema.
Em abril, a instituição informou que os custos dos alimentos haviam aumentado 36% em um ano, em parte devido aos distúrbios no Oriente Médio e no Norte da África.
Para a Oxfam, é preciso que haja mais “transparência” nos mercados de commodities e regulamentação de mercados futuros; um aumento de estoques de alimentos; o fim das políticas que promovam biocombustíveis [por supostamente ocupar terras que poderiam servir para a agricultura]; e investimentos em cultivos familiares, em especial os comandados por mulheres.
Segundo Barbara Stocking, “uma em cada sete pessoas no planeta passa fome apesar de o mundo ser capaz de alimentar a todos”.