Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – O resgate histórico e a busca de uma estética cada vez mais ligada às tradições locais pautou parte das discussões e das obras exibidas na 6ª Mostra Latino-Americana de Teatro de Grupo. O evento começou na última terça-feira (26) e se encerra neste domingo (1º) no Centro Cultural São Paulo, na capital paulista.
O grupo guatemalteco Sotz'il Jay fez pesquisas sobre cerimônias pré-colombianas para se aprofundar nos estudos da cultura maia. Segundo o diretor artístico da companhia, Víctor Manuel Barillas, a pesquisa ultrapassou os limites da pesquisa intelectual e se tornou uma crença para os artistas. “O que nós manipulamos são energias. Fizemos contato com os maias e temos a permissão deles para fazer a representação”, contou.
A peça Oxlajuj B'Aqtun foi a primeira exibida no festival. De acordo com Barillas, o espetáculo se distancia dos padrões estéticos mais convencionais por utilizar um modelo totalmente “cerimonial”. “Estamos revivendo uma estética. Essa pesquisa dos cantos que nós transmitimos ancestralmente”.
Com a difusão da cultura tradicional, Barillas acredita estar contribuindo para a evolução social da Guatemala. “Quando nós protestamos no teatro, estamos dizendo para o povo que desperte e acorde”, explicou.
Para o diretor do Teatro Experimental do Sesc do Amazonas (Tesc), Márcio Souza, a arte tem a missão de resgatar versões sonegadas da história brasileira. “Enquanto os americanos já revisaram três vezes o seu processo, em todos os níveis ideológicos, nós ainda não passamos a limpo nem a primeira fase”, comparou.
O Tesc apresentou na mostra sete pequenas peças que contam o processo de migração dos judeus sefaraditas (de origem ibérica) para a região amazônica. Por esse ângulo, o espetáculo tenta mostrar um pouco do processo de formação do povo da Amazônia.
Esteticamente, no entanto, Souza considera que o país está consolidado com as bases do Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade, lançado no auge do movimento modernista de 1922. “A receita está no Oswald de Andrade, continue comendo e deglutindo que é isso que vai provocar a estética do Brasil”, recomendou.
Apesar de ter um modelo artístico próprio, Víctor Barillas acha que o público brasileiro é receptivo a experimentações de outras partes do continente. “Não é uma estética conhecida, mas é uma história conhecida. Então, o público se identifica. Eu me surpreendi porque é a primeira vez que saímos da América Central com essa montagem ”.
Edição: Graça Adjuto