Cimi: mortes de indígenas em Mato Grosso só serão evitadas com ações governamentais permanentes

28/04/2011 - 13h26

Carolina Pimentel
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O registro da morte de indígenas da etnia Xavante por atendimento médico precário e falta de assistência no município de Campinápolis, interior de Mato Grosso, não é um problema novo, segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Nos últimos quatro meses, foram contabilizadas as mortes de 35 índios – a maioria deles, crianças.

Em 2009, mais de 20 crianças morreram por falta de atendimento adequado. Os Xavante chegaram a cobrar providências do governo federal, ao ocuparem um prédio da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), órgão responsável pela saúde indígena no país à época.

No ano passado, 60 crianças vítimas de doenças respiratórias, como pneumonia e infecções, morreram.

Para o coordenador do Cimi em Mato Grosso, Gilberto Vieira, as mortes perpetuam a cada ano porque o governo só tem atuado para resolver problemas pontuais, ou seja, não há um trabalho preventivo e contínuo. “Se não houver algo efetivo e planejado, não vai ser solucionado”, disse.

Segundo o coordenador, as mais de 100 tribos da área não têm acesso regular à água potável, o que facilita a disseminação de doenças. Além disso, a maioria dos doentes recebe atendimento médico na cidade de Campinápolis, quando já estão em estado grave. Ele cobra mais profissionais e veículos para atendimento nas próprias aldeias, que ficam a até 60 quilômetros de distância do município.

De acordo com Vieira, lideranças indígenas da região relatam que não acreditam na implantação de um processo contínuo de atuação na área de saúde por parte das autoridades, pois as equipes do governo, geralmente, ficam na região somente nos casos de emergência e vão embora.

A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, informou que deu início, em janeiro, a uma série de medidas para conter a mortalidade dos Xavante no interior de Mato Grosso. Entre elas, a interdição das casas de Saúde do Índio de Campinápolis e de Barra do Garças e a transferência dos pacientes para unidades alugadas até a construção de uma sede permanente, a compra de 16 carros e a distribuição de cestas básicas. Ainda segundo o governo, foram capacitados desde o início do ano 104 profissionais.

O secretário de Saúde Indígena, Antônio Alves de Souza, afirmou que, atualmente, mais de 500 profissionais estão na região para prestar o atendimento nas aldeias. De acordo com ele, as equipes “repetirão o processo sempre que necessário”.

Diante das mortes registradas em 2011, a prefeitura de Campinápolis e o governo de Mato Grosso decretaram situação de emergência no sistema de saúde local. Com essa medida, as autoridades esperam conseguir liberação de recursos para a construção de um novo hospital. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, o atual não é capaz de atender à demanda dos indígenas.

Para o secretário Antônio Alves de Souza, a situação de emergência não é resultado apenas da mortalidade indígena, mas de vários problemas enfrentados pela rede pública municipal.

 

Edição: Lílian Beraldo