Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Moradores de rua e albergados tiveram acesso hoje (21) a serviços como corte de cabelo grátis e orientação jurídica e de saúde durante o 3º Encontro Cultura e Cidadania da População em Situação de Rua, na Praça da Sé, região central da capital paulista. De acordo com a organização, eram esperadas 3 mil pessoas. No encontro do ano passado foram feitos mais de 4 mil atendimentos.
O presidente da organização não governamental (ONG) Movimento da População em Situação de Rua do Estado de São Paulo, Robson de Mendonça, disse que, todos os anos, as ruas da maior cidade do país recebem mais de mil novos moradores. Segundo ele, os motivos que levam as pessoas a morar na rua são catástrifes naturais, como enchentes, desocupações de imóveis, incêndios em prédios. “A prefeitura encaminha essas pessoas para os albergues e, de lá, eles acabam indo pra rua. É difícil sair da rua porque não há políticas públicas e, sim, muita discriminação com os moradores de rua, inclusive para conseguir emprego”.
Mendonça ressaltou que o encontro ajuda a resgatar a autoestima dos moradores de rua e orienta sobre seus direitos. O presidente da ONG disse que a tese de que os moradores de rua não gostam de ir para albergues é irreal. O problema é que, muitas vezes, não há vagas suficientes para todos os necessitados. Mas ele criticou a situação dos albergues públicos. “Os albergues não ajudam em nada as pessoas, são apenas um depósito de gente. O albergue não deveria funcionar como moradia definitiva. Deveria ser uma casa de passagem para dar documento ao morador de rua, para fazer um curso de capacitação profissional, um encaminhamento de emprego”.
Frequentador de um albergue, Nelson Silva Jesus, de 41 anos, é artista plástico, músico e conhecido como Bob Neto. Ele contou que veio do sul da Bahia e que trabalhou em diversas áreas, mas acabou se dedicando à arte, mesmo morando eventualmente na rua. “Voltei para São Paulo para tentar entrar no mundo artístico e hoje vivo do que ganho com minha música e minhas peças feitas em argila e massa epóxi e estou lançando um livro”.
Bob Neto classificou a moradia em albergues como horrível, pois todos têm regras muito rígidas. Embora diga que as regras são necessárias, ele reclama do excesso. Entretanto, foi nos albergues que ele conseguiu fazer diversos cursos. “Mas, mesmo assim, é difícil ter oportunidade, porque eles dão o curso, mas não exercemos a função e nem temos certificado”. O sonho de Bob Neto é fazer sucesso com a própria arte e ganhar dinheiro para viver bem e viajar.
Edição: Vinicius Doria