Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Livros de Jorge Amado publicados em russo, polonês, húngaro e chinês. Uma carta do padre Manuel da Nóbrega em que ele relata sua estadia em São Paulo. Manuscritos do político e escritor Rui Barbosa. E até uma espécie de mapa mundi, o mapa chamado Theatrum Orbis Terrarum de 1595, desenhado pelo cartógrafo Abraham Ortelius. Estes são apenas alguns exemplos do que pode ser encontrado no acervo de obras raras e especiais da biblioteca municipal Mário de Andrade, no centro de São Paulo.
Restaurada, modernizada e completamente reaberta ao público no início deste ano, a Biblioteca Mário de Andrade é dona do segundo maior acervo do país, superado apenas pelo acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, que guarda 3,3 milhões de itens.
“A Biblioteca Mário de Andrade já é uma senhora de quase 90 anos. Foi inaugurada em 1926. Estamos nesse prédio desde 1942, que foi construído exclusivamente para ser uma biblioteca”, explicou William Okubo, supervisor de Acervo da biblioteca.
Desses 3,3 milhões de itens, há, atualmente, 330 mil livros no prédio da biblioteca. O restante, composto por jornais e revistas, está armazenado em galpões, de onde serão levados para o prédio anexo, que deve ficar pronto até o final deste ano.
Segundo Okubo, na coleção de jornais e revistas, há uma edição, por exemplo, do jornal O Diabo Coxo, que circulou entre 1864 e 1865 e que foi o primeiro jornal feito em São Paulo com imagens. Também há exemplares do jornal O Farol Paulistano (1826-1836), o primeiro jornal produzido em São Paulo, e do Zé Carioca, um jornal mimeografado da Força Expedicionária Brasileira (FEB), feito por brasileiros em Florença, na Itália, na época da Segunda Guerra Mundial.
“No acervo de obras raras e especiais, temos livros que não são antigos, porém são especiais de alguma maneira. Por critério de antiguidade, temos nove livros anteriores a 1500. O mais antigo é de 1477. Chama-se Suma Teológica, de Santo Antonino”, disse Okubo.
O acervo de obras raras e especiais da biblioteca conta atualmente com 51 mil livros. Entre eles, há um exemplar da terceira parte do livro Marilia de Dirceo, que nunca existiu oficialmente. “O [livro] Marilia de Dirceo, do Tomás António Gonzaga, é, em Portugal, um dos livros mais conhecidos. Ele só tem a primeira e a segunda parte. Mas nós temos a terceira parte, que é um livro apócrifo. Ele [o autor] não escreveu a terceira parte. Não é um livro oficial, mas alguém, lá em Portugal, criou a terceira parte do livro”, contou Okubo.
De acordo com o supervisor, o acervo raro da biblioteca ajuda a construir a história do país. “Através de um livro histórico, conseguimos reconhecer o mundo e o país buscando informações que nem sempre estão muito claras”, afirmou.
Para se ter acesso a esse setor da biblioteca, é preciso fazer um agendamento prévio, pelo site www.bma.sp.gov.br ou pelo e-mail bma@prefeitura.sp.gov.br. Pelo site da biblioteca, é possível também acessar obras raras que foram digitalizadas.
Segundo Okubo, pelo link Tesouros da Cidade, é possível acessar cerca de 200 livros raros e 4 mil imagens e fotografias, inclusive algumas antigas da cidade de São Paulo. “A digitalização é importante porque a pessoa consegue vir à biblioteca sem estar fisicamente aqui”, afirmou. Segundo ele, a intenção é ampliar o processo de digitalização do acervo, o que também ajuda a preservar os livros e itens raros, que sofrem com a ação do tempo.
Além do acervo de livros raros e especiais, a biblioteca Mário de Andrade também tem 43 mil livros disponíveis para empréstimos. Para retirá-los, basta fazer uma matrícula na biblioteca, levando um documento com foto e comprovante de residência dos últimos dois meses. Uma consulta dos títulos disponíveis pode ser feita pelo site. da biblioteca.
O setor circulante da Biblioteca Mário de Andrade funciona de segunda à sexta, das 8h30 às 20h30 e, aos sábados, das 10h às 17h. O restante da biblioteca funciona de segunda à sexta, das 8h30 às 17h.
Edição: Lana Cristina