Sabrina Craide e Daniel Mello
Repórteres da Agência Brasil
Brasília e São Paulo – A notícia de que o governo japonês decretou situação de emergência nuclear em Fukushima, no Nordeste do Japão, depois do terremoto que atingiu o país, reacendeu a discussão sobre a segurança desse tipo de geração de energia no mundo.
A Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) informou que não houve, até o momento, registro de vazamento radioativo, mas quatro usinas nucleares foram desligadas e cerca de 2 mil moradores receberam ordens para deixar suas casas.
Para o físico e professor da Universidade de São Paulo (USP), José Goldemberg, os problemas causados às usinas nucleares por conta do terremoto no Japão mostram que não existe “segurança absoluta” no uso desse tipo de energia.
Goldemberg explica que, apesar da estrutura das usinas ser robusta, o funcionamento do reator onde a energia é gerada depende de um sistema de tubulações. “Se essa tubulação quebrar, que é o que aconteceu no Japão, e a temperatura começar a subir muito, o reator funde”.
O derretimento do reator pode, segundo o professor, liberar na atmosfera uma quantidade de radiação muito maior do que uma explosão de bomba atômica. “A quantidade de urânio consumida em um reator nucelar é muito maior do que a consumida em uma explosão nuclear”.
Apesar de não ocorrerem terremotos na região onde está o Brasil, o físico lembra que eventos menores, como um furacão, podem atrapalhar o funcionamento dos sistemas nucleares. “Essas tubulações que têm no reator são complicadas e podem ocorrer acidentes que interrompem o resfriamento”, pondera.
Devido aos riscos, Goldemberg acredita que o Brasil deva expandir a matriz energética com fontes mais seguras. “Não é uma boa ideia você ficar se envolvendo com uma tecnologia que oferece riscos que podem ser muito graves”, alertou. A melhor opção para o país, na opinião do especialista, é a construção de médias usinas hidrelétricas. Esse empreendimentos, que geram entre 300 mil quilowatts e 500 mil quilowatts, são o meio termo entre as pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e as grandes barragens, que alagam áreas muito extensas.
Também são boas opções para a matriz brasileira, de acordo com Goldemberg, a geração a partir do bagaço de cana-de-açúcar e a energia eólica, que têm um potencial expressivo no Norte e Nordeste do país. “Eu acho que explorar essas opções tornaria desnecessária a expansão do parque nuclear brasileiro”, avaliou.
Já o presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), Edson Kuramoto, avaliou que o acidente no Japão não é motivo para que haja um freio na construção de novas usinas no Brasil. “Não vejo isso como impedimento à expansão do parque nuclear no país. Pelo contrário, as usinas nucleares têm se demonstrado seguras”.
Ele lembra que as usinas brasileiras possuem um sistema diferente do que é adotado nas usinas japonesas que apresentaram problemas. Aqui, é utilizado o sistema Pressurized Water Reactor (PWR), que pode ser desligado com mais segurança e tem mais opções de refrigeração de emergência que o Boiling Water Reactor (BWR), usado no Japão.
Segundo Kuramoto, tanto as usinas japonesas quanto as brasileiras são projetadas para suportar terremotos de até 6 pontos na escala Richter e têm previsão de desligamento automático no caso de emergências.
Atualmente, o Brasil tem duas usinas nucleares em operação: Angra 1 e Angra 2, que, juntas, têm potencial de geração de 2 mil megawatts. A partir de 2015, a conclusão da usina nuclear Angra 3 colocará no sistema mais 1.080 megawatts.
A intenção do governo brasileiro é definir ainda este ano as diretrizes para a construção de pelo menos mais quatro novas usinas: duas no Nordeste e duas na Região Sudeste.
Edição: Lana Cristina