Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília – As políticas públicas, as empresas e a sociedade precisam superar a dicotomia de papéis entre homens e mulheres para reduzir as desigualdades de gênero no mercado de trabalho. O assunto foi tema de oficina desenvolvida hoje (27) pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).
“O modelo tradicional da relação trabalho-família é baseado na dicotomia entre o homem provedor e a mulher cuidadora”, explicou a diretora da OIT no Brasil, Laís Abramo.
No Brasil, apesar de alguns indicadores sociais mostrarem avanços nos últimos anos, a situação das trabalhadoras ainda reflete políticas públicas e posturas empresariais que tratam a mulher apenas como “cuidadora”. Dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad) mostram que o desemprego e a informalidade são maiores entre as mulheres, e a renda feminina é, em média, 24% menor que a dos homens.
Segundo Laís, o aumento da participação de mulheres no mercado de trabalho, a partir dos anos 70, não foi acompanhado de uma maior participação de homens na relação familiar, nem da oferta de serviços públicos que acompanhassem essa evolução. O resultado foi o acúmulo de funções para as mulheres do trabalho remunerado e das rotinas domésticas.
A redução da desigualdade, na avaliação da diretora da OIT, só será possível com a “redefinição das questões no âmbito familiar”, mas também depende de avanços nas políticas públicas, na legislação e nas estratégias dos empregadores.
“Algumas políticas públicas e a legislação ainda tratam as mulheres como cuidadoras. É preciso reconhecer que homens e mulheres têm direitos iguais no mundo do trabalho e na relação familiar. O cuidado dos filhos não é apenas uma responsabilidade, mas um direito, que também é dos pais”, apontou.
O pagamento de auxílio creche somente para as mães e não para os pais é um exemplo dessa visão, segundo Laís. “É um direito da criança, não da mãe, como é tratado pela legislação brasileira”.
Entre as possíveis estratégias para a redução das desigualdade entre homens e mulheres na relação trabalho-família, a diretora da OIT defendeu a extensão de direitos como licença maternidade à trabalhadoras que estão na economia informal, a criação de políticas de estímulo à entrada e permanência de mulheres no mercado de trabalho, de proteção à maternidade e à paternidade e o fortalecimento de serviços públicos como creches e escolas em tempo integral.
Edição: Rivadavia Severo