Pouca fiscalização da Polícia Militar facilita atividade ilegal de mototáxi

02/05/2010 - 17h02

Cristiane Ribeiro
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Mesmo exposto a uma possibilidade maior de acidente ou de contrair uma doença no couro cabeludo por causa do grande número de pessoas que usam o mesmo capacete, o passageiro que sobe na garupa de um mototáxi tem um pensamento só: chegar ao destino o quanto antes.

Ele também não se importa com o risco de ficar retido em uma blitz, já que a maioria dos condutores está na ilegalidade, ou seja, além de a atividade ser proibida em grandes cidades, como o Rio de Janeiro e São Paulo, muitos motoqueiros não têm documentação e as motos não têm placas.

Isso sem falar no custo, que já foi irrisório, não passando de R$ 2 para qualquer distância, e que hoje já chega a R$ 25, dependendo do percurso.

“Se estou atrasada para um compromisso, não penso duas vezes. Vou a um ponto de mototáxi, que geralmente há nas esquinas, e contrato a corrida. Já andei em motos sem placas e cujos condutores não usavam capacetes nem tinham para o passageiro, mas na hora do aperto a gente nem pensa no pior”, relatou Márcia Maria Pontes, de 28 anos, moradora do Caju e que trabalha como gerente de uma loja de roupas em Copacabana. A corrida, segundo ela, varia de R$ 20 a R$ 25 dependendo do condutor.

O professor de biologia Juliano de Moura Vaz, de 52 anos, morador de Campo Grande, na zona oeste, disse que tinha muito preconceito em subir em uma mototáxi, até o dia em que tinha que aplicar uma prova e estava muito atrasado.

“Fiquei muito apreensivo ao subir na garupa da moto, mas depois relaxei. Estava muito atrasado, por isso apelei para o mototáxi, mas não aconselho a ninguém. É muito perigoso”, acrescentou.

Já o vendedor ambulante Marcos Antônio da Siqueira, morador de Guadalupe, na zona norte, e que trabalha no centro da cidade, disse ficar envergonhado da “desordem urbana provocada pelos mototaxistas”. “Eles montam os pontos nas praças ou nas esquinas e fazem muito barulho. Não respeitam os moradores e nem parece que são ilegais. Não vejo ninguém fiscalizar”, reclamou.

O mototaxista Antônio José Soares, de 32 anos, disse que trabalha há dez anos no ponto da Rocinha e que no início os usuários eram de dentro da favela, mas que agora qualquer pessoa solicita o serviço pelo telefone celular. A regra, segundo ele, é não invadir o espaço dos colegas que fazem ponto em outro bairro. Assim, se a corrida for de São Conrado para a Barra, por exemplo, o condutor tem que voltar sem passageiro. “Por mês, a gente consegue tirar até R$ 1,8 mil”, disse.

Manoel Francisco Santana, gerente de um ponto de mototáxi na Tijuca, reconheceu que muitos condutores estão na ilegalidade porque não têm condições de regularizar sua documentação e a da moto. “Aí, o jeito é molhar a mão [dar dinheiro] aos policiais quando eles chegam para fiscalizar os documentos das motos e dos condutores. Tem vezes que a gente tem que separar o dinheiro por mês para que eles [os policiais] deixem a gente trabalhar.”

O assessor de Relações Públicas da Polícia Militar do Rio de Janeiro, tenente-coronel Lima Castro, disse desconhecer esse tipo de conduta e afirmou que todas as denúncias que chegam à corporação são apuradas. Segundo ele, a Polícia Militar atua na repressão às ações que podem ser desenvolvidas por motoqueiros ou com o uso de motos.

“Desde o dia 1º de janeiro até 14 de abril apreendemos mais de 11 mil motos em fiscalizações. As principais infrações foram falta de documentação da moto, condutor sem habilitação, condutores suspeitos de envolvimento com a criminalidade e falta de equipamento obrigatório, como capacete”, explicou, lembrando que a fiscalização da atividade, que é irregular na cidade, fica por conta da prefeitura.

A Secretaria de Transportes do Rio, por sua vez, informou que, se a atividade não é legalizada, não há o que fiscalizar.

Edição: Graça Adjuto