País mostra avanços em inclusão social, mas algumas áreas resistem

14/01/2010 - 5h56

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Nosúltimos 20 anos, o Brasil teve avanços na questão dainclusão, afirmou à Agência Brasil a superintendente-geral daorganização não governamental Escola de Gente, Claudia Werneck. A atuação da ONG é baseada no conceito de desenvolvimento inclusivo, queassocia a questão da pobreza ao problema da deficiência, sob todas asformas.Pioneirana pesquisa sobre inclusão no Brasil e na América Latina, ClaudiaWerneck tem 12 livros sobre o tema. “Eu acho que em termos de políticaspúblicas, a gente avançou muito e tem hoje respaldo para falar”. Ela destacou os avanços observados sobretudo nas políticaseducacionais. Em relação à cultura, disse que as políticas demoraram umpouco mais para avançar, mas estão começando esse processo.“Eu acho que avançamos muito lentamente na mentalidade das pessoas. Existe, no modo como as pessoas pensam deficiência, questõesmuito antigas, muito pobres. E, geralmente, elas estão relacionadas àcrença de que dar visibilidade ao tema deficiência significa resolver oproblema do preconceito e da discriminação”. Claudia Werneck afirmou que  essa questão pode ser resolvida associando a essa visibilidade reflexões profundas  e oferecendo soluções práticas de como transformar inclusão, que é um conceito abstrato e subjetivo, em práticas do cotidiano.Nesse sentido, lembrou que o livro acessível, ou seja, editado em várias mídias como objetivo de atender a diversos tipos de deficiência temporária oupermanente, é uma solução para garantir o direito à participação depessoas com deficiência. Acrescentou que na área governamental, muitossetores estão bastante interessados no tema da inclusão. Entre eles,  citou o grupo  responsável pelas políticas de juventude, o Ministério da Educação, no que se refere à educação especial, além da Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (Corde), da Secretaria  Especial de Direitos Humanos.

A superintendente da ONG assegurouque na área cultural há um longo caminho a ser percorrido. “Tem setoresmuito resistentes à questão da inclusão”. As grandes editoras, porexemplo, resistem ao livro acessível, que consideram algo supérfluo,disse. No segmento da educação, o problema persiste nas escolasparticulares, onde muitas crianças com deficiência não têm acesso àescola comum, embora isso seja lei no país. 

 

Na área teatral, muitos produtores e, inclusive, artistas não conseguem pensar em dividir o espaço com uma tela com legendas e tradução em libras (linguagem de surdos), criticou asuperintendente. Segundo ela, isso também é previsto em lei.“Há diálogos que não foram feitos. E eles incluem pensar o que játemos, mas imaginando que pessoas com deficiência existem”.

 

Claudia Werneck disse ainda que o desafio é saber quantocusta não discriminar. Fazer acessibilidade não é caro, disse.Para ela, os orçamentos que não prevêem acessibilidade é que sãocaros. A superintendente explicou que quando se faz um projeto no Brasil que nãoleva em conta a diversidade, o aspecto da deficiência e da inclusão,“na verdade, você está construindo um projeto de discriminação. E,consequentemente, um orçamento de discriminação”.