Adolescentes da região costeira de Paraty cobram escolas e transporte escolar

13/12/2009 - 0h07

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Paraty (RJ) - Rafaela de Souza Nascimento e Célia dos Santos Conceição, ambas de 13 anos, se dividem entre as brincadeiras à beira da praia, afazeres domésticos e pequenos bicos como babá, quase todos os dias. A rotina delas só é diferente às terça-feiras, quando têm aulas durante duas horas, na varanda de um pequeno bar, onde aprendem lições da 5ª série do ensino fundamental.As adolescentes moram na comunidade Pouso da Cajaíba, na região costeira de Paraty, sul fluminense, e estão há dois anos sem estudar. Isso porque na comunidade, acessível somente por barco, a escola só atende de 1ª a 4ª série. Sem dinheiro para viver na cidade, a única saída delas foi convencer a professora da escola, que voluntariamente ensina um grupo de quatro meninas, em uma das mesas do pequeno bar. De acordo com o Conselho Tutelar de Paraty, as meninas integram um grupo de cerca de 60 jovens que estão sem estudar na comunidade. Como são muitas as crianças sem escola, “não tem como ela [professora] dar aulas para todo mundo”, acrescenta Célia. O presidente da associação de moradores da praia, Francisco Sobrinho, conta que todos os anos cobra do município a integralidade do ensino na comunidade, conforme determina a Constituição Federal. O pescador sonha com uma escola modelo que valorize a tradição caiçara - própria da região - e ensine formas de melhorar o turismo. No entanto, diz que o transporte escolar, até Paraty, inclusive para o ensino médio, ajudaria enquanto a escola não tem previsão de ser ampliada.“Temos soluções. Queremos uma escola, o ideal, devido ao grande número de alunos do Pouso da Cajaíba e de outras praias próximas. Mas até a escola ficar pronta, a prefeitura pode oferecer transporte escolar, capacitar um adulto com um nível de instrução melhor para dar aulas ou, pelo menos, pagar a professora para ensinar todo mundo”, sugere.Para Francisco, é frustrante ouvir das meninas que a perspectiva de vida delas é “ajudar os futuros maridos com as redes de arrasto”. Na opinião dele, as atividades tradicionais devem ser uma opção, não o único destino da garotada. “Com os grandes barcos, o peixe está acabando. O que será delas então?”, questiona. “O turismo está desordenado, traz drogas, lixo e prostituição. Queremos educação para viver aqui, mas viver melhor”, afirma. De acordo com o Conselho Tutelar de Paraty, além do Pouso da Cajaíba, adolescentes estão fora da escola em mais seis comunidades costeiras, onde o acesso é também feito por meio de barcos. Em alguns vilarejos é possível chegar à pé, após caminhadas entre duas e dez horas, como é o caso da Praia do Sono, onde um condomínio de luxo ainda dificulta o acesso dos moradores caiçaras.A Secretaria de Educação de Paraty informou que a obrigação de instalar as escolas de 5ª série passou para o governo estadual.