Brasil teme manobra para derrubar financiamento contra aquecimento global

07/12/2009 - 19h14

Roberto Maltchik
Enviado Especial EBC
Copenhague (Dinamarca) - As negociações doprimeiro dia da 15ª Conferência das Nações Unidas sobre MudançasClimáticas (COP-15) puseram em alerta o Brasil e outras naçõespobres e em desenvolvimento que participam das discussões. O G77,bloco de países composto por 77 nações, entre as quais o Brasil,a Índia e a África do Sul, teme que esteja em andamento uma manobrapara limitar o financiamento dos países ricos às ações paratornar ambientalmente sustentável o crescimento econômico naspróximas décadas.O receio éfundamentado pelo avanço da recente proposta de estabelecer comoacordo, aqui em Copenhague, a destinação de U$ 30 bilhões para asações de mitigação nos próximos três anos. A tese, defendidapelo Brasil, é de que esse é apenas um compromisso de curto prazo.Para que se chegue a um entendimento, seria preciso bater o martelosobre o investimento previsto para os próximos dez anos.“A tendência dospaíses em desenvolvimento é não se comprometer apenas com umdinheiro inicial que vai durar só até 2012. Já que a mudança doclima é um problema urgente e o desafio é de longo prazo, ofinanciamento também tem que ser urgente e de longo prazo”,garante o negociador chefe do Brasil, Luís Alberto Figueiredo.De acordo com o BancoMundial, o combate ao aquecimento global demanda investimentos anuaisde até U$ 270 bilhões. O próprio secretário-geral da conferência,Yvo de Boer, afirmou que, além do investimento de curto prazo, épreciso assegurar outras “centenas de bilhões de dólares” paraque a negociação seja bem sucedida.O pesquisador PauloMoutinho, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, lembra queesse dinheiro é fundamental para os países insulares da África eda Ásia, ameaçados diretamente pelo aumento do nível dos oceanosprovocado pelo degelo dos polos.“Não acredito queeste seja um dinheiro que deva ser utilizado pelo Brasil paracombater o desmatamento da Amazônia”, adverte.No entanto, o governobrasileiro acredita que esses recursos devem estimular os chamadosRedás, projetos para permitir que os donos de terras na florestainvistam em serviços ambientais, como o reflorestamento e arecuperação de áreas degradadas.O cientista chefe daorganização não governamental Oceana, Mike Hirshfield, residentenos Estados Unidos, admite que a COP-15 corre efetivamente o risco deficar sem acordo por causa do impasse sobre o financiamento. “Essarealmente é uma preocupação que deve ser levada em conta pelospaíses em desenvolvimento”, alerta.