Para Lavareda, até eleitores que apoiam o governo podem querer mudanças

27/10/2009 - 17h55

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Caxambu (MG) - O sociólogo Antônio Lavareda já assessorou candidatos em mais de 75 eleiçõesmajoritárias (prefeito, governador e presidente) e tentadescrever o quadro político que se avizinha no próximo ano. Para ele, o candidato do PT tem a vantagem de ser a representante de um governobem avaliado cujo presidente está com uma popularidade em níveis elevados. Mas as pesquisas de opinião apontam que mais de 40% dos eleitores que apoiamo governo desejam mudanças.Para descrever a situação atual, Lavareda recorre a metáforas, com alusões ao presidente da República em final de mandato. “O pai amado de uma grande família foi para o céu.Trata-se agora de escolher quem o substituirá na chefia. Asopções são restritas e nenhuma delas têm ocarisma, a força afetiva do patriarca que se foi", disse o sociólogo, na sessão especial queabriu os debates do 33º Encontro Anual da AssociaçãoNacional de Pós-Graduação e Pesquisa (Anpocs), que serealiza em Caxambu (MG).Lavaredaacredita que a potencial candidata do governo em 2010, a ministra Dilma Rousseff, pode ser apresentada como“coautora” e fiadora da continuidade do governo bem avaliado. Mas, ressalta ele, “transferir afetividade não será tarefa fácil”.Nesse sentido, afirmou ele, a oposiçãopode se beneficiar de um eventual desgaste e “estafa” de final delongo ciclo político, como costuma ocorrer, por exemplo, nosEstados Unidos, onde há reeleição e éraro o partido ficar no poder após o segundo mandato. Oúnico caso da história recente foi a eleição, em 1990, do republicano George Bush após oito anos de Ronald Regan.

Dado depesquisa apresentada por Lavaredaaponta, a um ano das eleições, uma vantagem do governador José Serra(PSDB-SP) sobre a ministra Dilma Rousseff, em 19 pontos (40% a 21%).O deputado Ciro Gomes (PSB-SP), aparece com 17%, e a senadora Marina Silva (PV-AC), com 8% das preferências declaradas. Além de Serra, o candidato Ciro Gomes é o que pode se beneficiar desse desgaste de  longo prazo de governo.

Segundo o especialista em campanha eleitorais, os posicionamentos deSerra e de Ciro vão além do recall (da lembrançados nomes em função de outros pleitos), mas são influenciados pela avaliaçãoque tiveram em cargos que ocuparam.

Lavareda observa que Marina Silva (PV-AC) é mais conhecida entreestratos que acompanham de perto o noticiário político,porém joga contra a candidata o baixo tempo que terá nohorário eleitoral. Para ele, mensagens pelocelular e pela internet deverão ser usados por Marina Silvapara compensar a “quase ausência” no rádio e na TV.

A misturade fatores, como o posicionamento perante o atual governo, o recalle a avaliação do candidato, o horário eleitoral e o uso de novas mídias, além das alianças políticas(“fracionadas”) e composição do eleitorado (votofeminino e da 'nova classe média'), é o quedeterminará o resultado do pleito de 2010.

Conforme Lavareda, oeleitorado brasileiro se equilibra no centro ideológico doespectro político, que deve ser tomado como“multidimensional”. "Em termos de valores sociais (uso de drogas,por exemplo), há uma tendência mais conservadora, àdireita. Na economia (intervenção estatal, porexemplo), mais à esquerda", explica.