Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Aadvogada, socióloga e diretora da organização não governamental Justiça Global,Sandra Carvalho, é a primeira brasileira a receber o PrêmioAnual de Direitos Humanos da Human Rights First (HRF). A homenagem ocorreu ontem (22), em Nova York. O prêmio da HRF éconcedido desde 1986 a pessoas que se destacam na “luta pelaigualdade e pela liberdade de pensamento, de expressão e pelaliberdade religiosa em suas sociedades”.Entre aspersonalidades que já receberam a homenagem estão oex-senador norte-americano Edward Kennedy, as ativistas paquistanesasAsma Jahangir e Hina Jilani, que ocupam altos cargos na ONU, e aex-presidente da Irlanda Mary Robinson, que foi tambémalta-comissária de direitos humanos das NaçõesUnidas. Neste ano, também recebeu a homenagem o ativistaPrincipe Gabriel Gonzalez, que atua na defesa dos direitos de presospolíticos na Colômbia. A cerimônia de premiaçãofoi no Chelsea Piers, um centro de convenções na cidadede Nova Iorque, nos Estados Unidos.Ao receber a homenagem, Sandra chamou aatenção para as violações de direitoshumanos que continuam a ocorrer no Brasil. “Esse prêmio veioem um momento muito importante porque ele também é umaoportunidade para se discutir e dar visibilidade em âmbitointernacional para as violações de direitos humanos quecontinuam ocorrendo no Brasil", disse."O Brasil tem sido reconhecido pelaquestão do desenvolvimento econômico e por sua políticaexterna. Nós chamamos atenção para a outra facedesse modelo de desenvolvimento econômico que vem acarretandomuitas violações de direitos humanos, principalmente emrelação às comunidades tradicionais, comoquilombolas, povos indígenas, populaçõesribeirinhas que têm sido impactadas pelos megainvestimentos, pelaconstrução de usinas hidrelétricas e rodovias,com a expansão do agronegócio com a monocultura”,destacou Sandra.A decisãode premiar a brasileira, de acordo com a HRF, éum reconhecimento ao trabalho de Sandra no combate à violênciapolicial e aos grupos de extermínio, na luta pela reformaagrária e na fiscalização aos abusos e crimescometidos pelo Estado dentro do sistema prisional. Outro ponto dotrabalho de Sandra destacado pela organização foi suaatuação nas denúncias contra a perseguiçãoe a criminalização dos movimentos sociais e defensoresde direitos humanos no Brasil. Abrasileira ainda demonstrou em Nova York preocupaçãocom as Olimpíadas de 2016 que serão realizadas no Riode Janeiro. “ORio de Janeiro ao longos dos últimos três anos temvivido as incursões violentas da polícia nas megaoperações. A reação da polícia temsido de vingança. Não só no Rio, mas como vimostambém em maio de 2006 em São Paulo. A situaçãodo Rio e a sua imagem não vai mudar se não mudar aforma com que a política de segurança é pensadae desenvolvida. A forma como o Estado olha para as comunidades pobresdo Rio de Janeiro e a forma como ele age nessas comunidades sócontribui para o aumento da violência e para o aumento dosíndices de homicídios”, criticou.Outracrítica à política de segurançaimplementada no Rio de Janeiro diz respeito às ações que contam com presença das polícias nas comunidades pobres. “O olhar dopoder público para essas comunidades continua sendocriminalizador da pobreza. Continua sendo o olhar de vigilantismo deuma população que precisa ser contida e reprimida”,destacou.A HRF,organização de direitos humanos fundada em 1978,destacou ainda, ao anunciar a premiação, as diversasameaças de morte endereçadas a Sandra desde o iníciode sua militância na década de 1990, quando ainda eraestudante de ciências sociais e trabalhava como pesquisadora doNúcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP) e comoestagiária da Comissão Teotônio Vilela deDireitos Humanos (CTV). Nessa época Sandra se destacou no casodo Cemitério Dom Bosco, em Perus, na cidade de SãoPaulo, onde foram encontradas ossadas de presos políticos emuma vala comum.Em 1992,Sandra integrou a comissão que entrou no presídio doCarandiru logo após a chacina de 111 presos e constatou as evidências de que havia ocorrido um massacre.Sua atuação foi fundamental para impedir adescaracterização do cenário do crime e garantira presença da perícia técnica. A partir deentão, Sandra se especializou na área de segurançapública e voltou seu trabalho no NEV para a reforma daspolícias e do sistema penitenciário brasileiro. Em1993, já era coordenadora executiva da CTV.Durantetoda a década de 1990, em São Paulo, Sandra Carvalhofocou seu trabalho na fiscalização de crimes e abusoscometidos por policiais. Ela denunciou grupos de extermínio,chacinas e locais utilizados para extorsão, tortura e desovade cadáveres. Como coordenadora executiva da Comissãode Direitos Humanos (CDH) da Assembleia Legislativa de SãoPaulo (Alesp), a brasileira atuou na onda de rebeliões naFebem, em 1999. No mesmo ano, ajudou a fundar a JustiçaGlobal. Atualmente,a Justiça Global atua em 13 estados. Além de seenvolver com as questões de segurança pública, aorganização trabalha para garantir proteçãoa defensores de direitos humanos que sofrem ameaças e amovimentos sociais criminalizados ou perseguidos.