Fernando Freire
Enviado Especial da EBC
Tegucigalpa (Honduras) - Vista do alto, acapital de Honduras, Tegucigalpa, onde vivem 2 milhões dehabitantes, não tem muitos edifícios e nem parece ser umamegalópole. Com uma área de 112 mil quilômetros quadrados - umpouco maior do que Santa Catarina -, Honduras tem hoje a terceirarenda mais baixa da América Central. Com 70% da economia voltadapara as exportações de banana e café para os Estados Unidos, ocenário econômico é preocupante desde que o país sofreu um golpede Estado há três meses, com a deposição do presidente ManuelZelaya por um grupo liderado por Roberto Micheletti, com apoio das Forças Armadas hondurenhas.Os hondurenhos contamque as sanções econômicas impostas pela comunidade internacionalpor causa do golpe forçaram muitos empresários a fechar as portas.Dezenas de lojas em Tegucigalpa estão pichadas com palavras deprotesto, a maioria contra o golpe. Em uma delas, está inscrito:“Somos atores do nosso destino, não espectadores.”Com a economia emretração, os salários caíram em Honduras. O taxista Dimas Olivarelata que, antes do golpe de Estado, pagava-se US$ 15 por um dia detrabalho. Hoje, são dez. “Com esse salário tão baixo,praticamente pagamos para trabalhar. E o pior é que os turistassumiram. O movimento caiu pela metade e as companhias aéreascancelaram quatro voos diários para Tegucigalpa. Meu carro ficaparado quase o dia inteiro”, comenta Oliva.A assistente socialBelkis Videa diz que a instabilidade política em que vive o paístrouxe mais desemprego. “A população em geral está preocupadacom o futuro, em especial o das crianças. Não me importa quem vaigovernar o país. O que queremos é que as coisas encontrem seu rumocom segurança.”Para a enfermeira MariaOndina Valladares, o golpe também trouxe restrições à liberdadede caminhar pelas ruas de Tegucigalpa. Ela conta que, há duassemanas, foi suspenso o toque de recolher imposto pelo governogolpista, que vigorou das 6h às 18h. “Com esse toque de recolher,que durou o dia inteiro, as pessoas simplesmente não podiam ir parao trabalho. Felizmente, ele não está mais valendo, mas isso nãosignifica que não tenhamos que estar em alerta. Ao contrário.Precisamos ter cautela diante dessa situação que não é nada boa”,afirma Valladares.Com eleiçõesprevistas para o fim de novembro, a campanha política já está nasruas da capital hondurenha, em painéis ou pela televisão.Diferentemente do Brasil, não há horário eleitoral em Honduras. Oscandidatos podem veicular propaganda política na televisão, mas têmque pagar por isso.A campanha, entretanto,ainda está morna. Os hondurenhos consideram que ela ainda não fazparte da realidade do país. Eles estão muito mais preocupados emsaber quem vai ditar os rumos para o futuro: o golpista RobertoMicheletti ou o presidente deposto Manuel Zelaya.As negociações para ofim da crise política serão retomadas amanhã (18). Sem progressonas tratativas, os dois lados não chegam a um acordo sobre a voltade Manuel Zelaya à Presidência. O golpista Roberto Micheletti querque a Suprema Corte – o Judiciário hondurenho foi parte ativa nogolpe de Estado - decida a questão. Já Manuel Zelaya defende que oCongresso dê o aval para que ele possa voltar ao poder.Enquanto permanece aindefinição, os hondurenhos rogam para que, do alto de Tegucigalpa,uma estátua gigante, o Cristo de Picacho, similar ao do Rio deJaneiro, traga dias melhores para Honduras.