Pequenos produtores de álcool sofrem mais com a crise

30/07/2009 - 20h32

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Começa nestasexta-feira (31), em Agudos, no interior paulista, a sexta edição da Agrifam, feira de agriculturafamiliar promovida pela Federação dos Trabalhadores na Agriculturado Estado de São Paulo (Fetaesp). Nela, uma miniusina estaráproduzindo etanol e cachaça para que os pequenos fornecedores(produtores) da cana-de-açúcar conheçam a tecnologia.Segundo o presidente da Fetaesp,Braz Albertini, os pequenos produtores deveriam vender o produtoacabado. A apropriação da tecnologia de produção final pelospequenos agricultores poderia ser um alívio para fornecedores queestão, como se diz no mercado de etanol, “entregando” a cana àsusinas a um preço que chega a ser 30% abaixo dos custos de produção."Acrise é dramática”, assinala Roberto Rodrigues, ex-ministro daAgricultura e hoje presidente do Conselho do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “Os pequenosfornecedores estão no começo da cadeia produtiva do álcool e doaçúcar que sofre consequências da crise econômica, que acelera oprocesso de concentração e internacionalização da indústria deetanol. As usinas com dificuldade passaram a não pagar o produtorindependente de cana, mas o fornecedor de cana não tem para quempassar o problema”.Os pequenos produtores sãoresponsáveis por 30% da cana-de-açúcar fornecida no Brasil. Muitos são agricultores familiares. Em Pernambuco, por exemplo, ospequenos fornecedores são responsáveis por 34% da cana produzida,96% desses são agricultores familiares, informa José RicardoSevero, assessor técnico da Confederação de Agricultura ePecuária do Brasil (CNA).Segundo Severo, membro da Comissão Nacional de Cana-de-Açúcar da CNA, asituação exige política específica para o setor. “Não temosuma política, desde o consumidor até o produtor, que mantenha acadeia saudável, que melhore o relacionamento da unidade industrialcom as distribuidoras de combustíveis e também da indústria comseus fornecedores de cana”, avalia o assessor técnico, que prega a necessidadede garantia de preços mínimos (como ocorre na soja e no milho).“Temos o discurso, mas não temos o recurso. Nem o governo nem o setorprivado têm estratégia”, reconhece Roberto Rodrigues, que apontaa necessidade de uma política que trate do fluxo de produção, modelode negócio, logística, estocagem, zoneamento, financiamento,treinamento da mão de obra e trato da questão ambiental. “Tem umconjunto enorme de medidas que estão pulverizadas entre os órgãosdo governo, 12 ministérios, além Embrapa e Petrobras. Não hácoordenação”, reclama.