Se têm o direito de votar, também podem ler, diz escritor sobre livro censurado

04/07/2009 - 16h53

Lísia Gusmão
Repórter da Agência Brasil
Paraty (RJ) - As escolas não estão preparadas para lidar com a literatura em sala de aula, avaliou hoje (4) o professor e escritor Cristovão Tezza, que teve o livro Aventuras Provisórias censurado em Santa Catarina, sua terra natal. Adotado no ensino médio, o romance foi recolhido pelo governo do estado por conter conteúdo considerado inadequado, como descrições de cenas de sexo e uso de palavrões.Professor da Universidade Federal do Paraná, Cristovão Tezza foi o autor brasileiro mais premiado em 2008 com o livro O Filho Eterno, baseado na relação com seu filho, portador da síndrome de Down.“A escola tem muita dificuldade em lidar com literatura, com a vida real da linguagem. O Brasil é um país conservador”, disse. “A literatura não é material didático, e a escola tem dificuldade de colocar a literatura na sala de aula. Tem pai que reclama, tem professor que não sabe trabalhar com isso. Mas a escola tem que se aparelhar para pensar essa questão da literatura na sala de aula. Isso tem que ser enfrentado”, afirmou Tezza em entrevista à Agência Brasil.O escritor participa da 7ª Festa Literária Internacional de Paraty (RJ), onde falou sobre o caráter autobiográfico na literatura na mesa O eu profundo e outros eus, que dividiu com o mexicano Mario Bellatin na sexta-feira (3).Esta é a segunda obra de Cristovão Tezza proibida em escolas. Antes, o livro Juliano Pavollini também foi considerado impróprio em Curitiba, onde, hoje, o escritor leciona. “Sempre que meus livros são adotados nas escolas, já espero o aconteceu com Juliano Pavollini, outro romance meu. O caso de Santa Catarina chamou a atenção porque foi uma reclamação pontual e o estado imediatamente mandou recolher todos os exemplares. Foi uma coisa exagerada. Até porque o livro era para o ensino médio, que tem estudantes acima dos 16 anos. Se podem dirigir ou votar, podem ler também."Tezza procura minimizar a proibição, que não vê como censura “no sentido explícito ou pesado do termo”. “São manifestações isoladas de conservadorismo, visões retrógradas da literatura, que pipocam aqui e ali. Não é sistêmico.”