Não há cidadania sem livro, diz Milton Hatoum

03/07/2009 - 6h43

Lísia Gusmão
Enviada especial da EBC
Paraty (RJ) - O escritor Milton Hatoum vai direto ao ponto ao falar da realidade brasileira. Para ele, não há cidadaniasem livro e política pública tem que ser feita “no miúdo”. A declaraçãofoi dada em entrevista à Agência Brasil, em que antecipoualgumas das reflexões que devem marcar o debate com Chico Buarque namesa literária Sequências Brasileiras, hoje (3), na sétima edição da Festa LiteráriaInternacional de Paraty (Flip).Em comum, os dois analisaram arealidade brasileira em seus mais recentes livros. Em Leite Derramado,Chico Buarque repassa a história do Brasil a partir das memórias donarrador, que, próximo de morrer, desfia passagens de apogeu e declíniode sua família em quatro gerações. Já Hatoum ambienta A Cidade Ilhada em Manaus, palco também de Dois Irmãos, que explora apresença árabe na Amazônia.No café ao lado da Tenda dos Autores, que receberá as maiores estrelas da Flip até domingo,Hatoum cobrou “mudanças estruturais” na política brasileira e oengajamento das prefeituras nas políticas voltadas à educação.“Eu,que ando muito por esse país, observo que os livros do Ministério daEducação estão chegando às escolas e às bibliotecas. Isso é um alentopara quem escreve, para quem dá tanta importância a leitura”, disse.“Mas política pública tem que ser feita no miúdo, nos municípios."Segundo ele, as políticas públicas não devem "obrigar ninguém a ler". "Mas é um absurdo, para não dizer umcrime, você não permitir o acesso à leitura a milhões de criançaspobres no Brasil. A política do livro deve ser uma prioridade dequalquer governo. Não há cidadania sem leitura”, disse.Hatoumcobrou ainda a valorização dos professores e defendeu a implantação deuma política de salários para a categoria a partir de 2010. “É uma vergonha queprofessores ganhem menos do que um salário mínimo. Qualquer paísdesenvolvido, qualquer país civilizado investiu muito na educação, nolivro, na formação dos professores, nos salários dos professores. Eisso eu acho positivo.” Se a educação evolui noBrasil, o mesmo não acontece com a política, disse Hatoum. O autorobserva avanços pontuais, sobretudo na educação, que prometem uma“mudança futura”, mas reclama da demora em mudanças estruturais. “OBrasil de hoje ainda é desigual e injusto, mas há avanços pontuais queprometem uma mudança futura. Eu sinto falta de uma mudança maisestrutural, ética. Veja o que acontece no Senado”, disse o escritor, emreferência à crise política deflagrada após denúncias de irregularidadesadministrativas envolvendo a Casa.