Debate sobre questões climáticas fica apenas na agenda

03/07/2009 - 11h51

Paulo Machado
Ouvidor Adjunto da EBC
Brasília - No dia 24 de junho o leitor Daniel Barone leu a matéria Especialistas discutem mudanças climáticas e soube que,naquele dia, especialistas e parlamentares iriam se reunir em um auditório doSenado Federal para discutir o assunto. Ligada à primeira, uma segunda matéria: ONGscobram ações imediatas do governo para enfrentar mudanças climáticas,publicada logo a seguir, adiantava quem seriam os participantes e osobjetivos do encontro: “ discutir ações imediatas do governo para reduzir asemissões brasileiras de gases de efeito estufa e garantir resultados nanegociação global sobre um novo acordo para complementar o Protocolo deQuioto”.Interessado no tema, no dia seguinte Daniel escreveu para aOuvidoria perguntando: “Como podemosacompanhar esta reunião, ou se possível, como sugestão seria interessante umamatéria de acompanhamento deste encontro.” Mas infelizmente já era tarde,pois o evento durou apenas um dia e não foi acompanhado pela reportagem da ABr. Em sua resposta ao leitor, no dia 29 a Agência justificou: “Agradecemosao leitor. Na verdade o evento ocorreu no último dia 24. Não tivemos como fazera cobertura factual, mas publicamos uma matéria adiantando o conteúdo do eventoe detalhando as reivindicações que a sociedade civil apresentou ao Congresso.”Perguntas sem respostas Pelas informações contidas na matéria que adiantou o conteúdodo evento, muitas perguntas ficaram sem respostas. Ela dizia, por exemplo, queo debate se daria com representantes do governo. Quem foram essesrepresentantes? Será que ministros como o do Meio Ambiente, o da Minas eEnergia ou o da Agricultura estiveram presentes? Entre as reivindicações que seriam apresentadas constava oestabelecimento de metas e regras para as políticas públicas do setor como:redução dos índices de desmatamento do Cerrado e da Caatinga, níveis emissão decarbono na atmosfera e redução de autorizações para termelétricas a óleo ecarvão mineral. Qual a resposta dos representantes do governo a essasreivindicações? Quais as metas estabelecidas pelo próprio governo? Como ogoverno pretende atingi-las? A matéria também informava que o Plano Nacional de MudançasClimáticas está em tramitação no Congresso Nacional e que as organizações da sociedadecivil querem a aprovação de uma Política Nacional de Mudança do Clima, com statusde lei, que possa regulamentar a questão de forma mais consistente, pois,segundo elas: “o plano ainda está longe de ser um esforço de Estado que coloqueo Brasil nos trilhos de um desenvolvimento com baixos níveis de carbono”. O quepensam as autoridades do governo a esse respeito?Outra questão que estava na pauta do evento, são asnegociações para a reunião que ocorrerá em dezembro em Copenhague. Segundo amatéria: “As ONGs pedirão que os negociadores sejam firmes para garantir metasambiciosas e rígidas de redução de emissões de gases de efeito estufa pelospaíses desenvolvidos”. Quem serão os “negociadores”? Qual a posição deles emrelação a um acordo internacional sobre o problema? Será possível negociar “ummecanismo que estimule a redução de emissões por desmatamento e degradação”? Ouainda: “metas mais ambiciosas e, principalmente, a criação de um mecanismo paraflorestas, que beneficiaria muito o Brasil”?Essas são algumas das perguntas para as quais os leitores da Agência Brasil não encontraramrespostas em suas matérias e tampouco nas das demais agências de notícias.Assim, esse assunto, muito mais do que uma simples agenda diária, poderiamerecer uma pauta completa e aprofundada, informando sobre quais são osinteresses que estão em jogo, quem são os agentes internacionais e nacionaisque negociarão e decidirão sobre o problema, que posições defendem e por queresistem à, ou apóiam, a implementação de políticas públicas com metas eobjetivos claros. Essas informações dariam condições dos leitores participaremdesse debate e se posicionarem em relação ao assunto, orientando suas atitudespessoais frente à situação ambiental do país, do planeta, e, principalmente, emrelação ao modelo de desenvolvimento.Julho e agosto estão chegando, meses em que boa parte dasregiões Centro-oeste e Norte é coberta por nuvens de fumaça provenientes dasqueimadas. Todos os anos essa história se repete. O gás carbônico toma conta denossa atmosfera como a desafiar nossas instituições. Será essa fumaça a mesmaque dificulta a cobertura da mídia sobre o assunto? Até a próxima semana.