Diminuição da Selic trará mais investimento e competitividade, avalia ex-presidente do BC

25/05/2009 - 22h10

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A redução da taxabásica de juros (Selic) é o caminho que levaráao aumento da taxa de investimento do setor privado no Brasil, nabusca de ampliar a competitividade, visando uma melhor inserçãodo país no mundo pós-crise. E tudo aponta para que aSelic já alcance um dígito ainda este ano. A avaliaçãofoi feita à Agência Brasil pelo ex-presidente doBanco Central, Gustavo Franco. Ele abriu hoje (25) o ciclo de debatessobre competitividade na Federação das Indústriasdo Estado do Rio de Janeiro (Firjan), em comemoração aoDia da Indústria.

Franco afirmou que oBrasil está no limiar de passar de país emergente paranação desenvolvida. Mas alertou que para transitar comsucesso para a condição de país desenvolvido, oBrasil terá de adotar paradigmas internacionais de políticaspúblicas, como ocorreu com os Tigres Asiáticos e compaíses da periferia européia, como Portugal e Espanha.Além disso, segundo Franco, é preciso elevar oinvestimento privado. “A redução da taxa de juros éa fundação sobre a qual vai ser construído omercado de capitais que, por sua vez, vai disponibilizar fundos paraaqueles que tenham bons projetos de investimento”, disse.

Enquanto na China ataxa de formação bruta de capital fixo (investimentoglobal feito na economia) equivale a 35% do Produto Interno Bruto(PIB), no Brasil essa taxa corresponde a 17% do PIB. Franco afirmouque a taxa de investimento é o principal fator determinante docrescimento de um país.

Dos 17% de formaçãobruta de capital fixo, 15% são do setor privado e o restantedo governo. Então, para chegar aos 30% da China, o desafio édo setor privado. Ele terá de fazer crescer o seu investimentopara, no mínimo, 24% ou 25%, avaliou o ex-presidente do BancoCentral. A taxa de formação bruta de capital fixo éo percentual do valor adicionado gerado em um país naquele anopara recompor capacidade produtiva para um crescimento futuro.

Para isso, segundoFranco, as empresas teriam que dobrar os gastos de capital emproporção do faturamento. Para o Brasil crescer mais,é preciso mais investimento. “Tão simples assim”,disse.

Ele admitiu que aconstrução do mercado de capitais é complexa,“principalmente para um país cujo mercado está muitopoluído pelos sistemas do passado, concebidos para uma outrafunção, que era defender as pessoas, as empresas, dainflação”. O economista entende que está nahora do debate sobre competitividade e abertura voltar à tonano Brasil.

Franco afirmou aindaque esse vício permanece no sistema financeiro, no crédito,no sistema bancário. Segundo o ex-presidente do Banco Central,o trabalho de re-adaptação e reciclagem do mercado decapitais para uma outra função é árduo elongo. Mas, ao mesmo tempo, inaugura uma agenda positiva que deveráser priorizada pelas autoridades do governo daqui para a frente,“mais do que qualquer outra coisa”.

O economista defendeque o setor privado seja engajado nessa discussão. “Nadapoderia ser mais do interesse do setor privado do que esse projetoandar”. Gustavo Franco está convencido de que já napróxima reunião do Comitê de PolíticaMonetária (Copom) do Banco Central, a taxa Selic jápoderá alcançar um dígito.