Consultor das Nações Unidas diz que crise trará dificuldades para Brasil a longo prazo

05/03/2009 - 18h55

Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - As condições que beneficiaram a economia brasileira nos últimos anos não voltarão a se repetir, o que poderá trazer dificuldades para o país no médio prazo, disse hoje (5) o consultor internacional Jan Kregel, conselheiro da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad). Um dos palestrantes do seminário promovido pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, que discute a crise econômica internacional, Kregel afirmou que o novo cenário econômico imporá desafios para o país a médio e longo prazo.Na opinião do professor, as autoridades econômicas não podem confiar que o país será pouco atingido pela crise financeira internacional. “O boom no preço das commodities [bens agrícolas e minerais com cotação internacional] e o fluxo de investimentos externos, que beneficiaram o país nos últimos anos, não voltarão mais”, destacou o professor.Para Kregel, o país precisa investir a longo prazo na rede de proteção social e na educação para manter o desenvolvimento nas próximas décadas. “Não adianta confiar no BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] para financiar as empresas e segurar a economia eternamente, porque esse modelo não é sustentável”, declarou o especialista.Segundo Kregel, o governo também não tem condições de se financiar, por muitos anos, pegando dinheiro dos investidores, mediante juros altos: “O governo não pode financiar os investidores com taxas de retorno elevadas por tanto tempo. Isso é difícil de se manter no longo prazo”, disse.Já James Galbraith, professor da Universidade do Texas, afirmou que a era da globalização foi profundamente interrompida pelo colapso no comércio exterior. Na avaliação dele, a economia mundial nunca mais voltará ao normal, porque a crise provocou mudanças radicais nos parâmetros econômicos.De acordo com Galbraith, o primeiro passo para a resolução da crise econômica seria o governo dos Estados Unidos assumir a administração dos grandes bancos e sanear as instituições, vendendo-as posteriormente. “Essa é um procedimento adotado constantemente com os pequenos bancos. É preciso agora vontade para aplicar essa receita nas maiores instituições”, declarou.Autor de livros sobre desenvolvimento e meio ambiente, o economista Ignacy Sachs sugeriu que a experiência do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) seja aplicada nas prefeituras para movimentar a economia dos municípios: “Esse é um modelo aplicado na Índia, onde a própria população local está envolvida nas obras”, disse.