Economista defende medidas mais contundentes para evitar desaceleração econômica

25/12/2008 - 17h05

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Nessa época decrise, o governo federal deveria tomar medidas “mais contundentes”,que beneficiem todos os setores da economia, e não apenasalguns. A afirmação é do professor de Finançasda Fundação Getulio Vargas (FGV) Ricardo Araújo. Segundo ele, nãose pode ajudar um setor em detrimento de outros. “Por que o setorautomobilístico está sendo tão ajudado pelogoverno, quando há muitos setores que precisam?”, questionouo professor, em entrevista à Agência Brasil. Para ele, para evitar uma forte desaceleraçãoda economia, é preciso melhorar o spread(diferença entre as taxas pagas pelos bancos para adquirirrecursos e as que cobram dos clientes) bancário no créditopara as famílias de maneira geral. "As famílias consomem, parcelam suas compras, e as taxas de juros naponta do crédito já são muito elevadas. Então,o governo precisa criar um mecanismo para que as taxas de juros na pontado crédito continuassem nos parâmetros do anopassado, não teríamos um processo de desaceleraçãoeconômica tão forte como teremos”, afirmou.

Araújo disse queos bancos ainda não reduziram o spread, por causa da  interdependênciaentre eles e o governo, na medida em que a dívida públicaé financiada pelos bancos, explicou. “O governo depende dos bancos.” Ele sugere também o aumento da concorrênciano setor, com a permissão para que bancos estrangeiros se instalem no país.–  hoje isso só ocorre se os bancosinternacionais comprarem bancosbrasileiros. “O sistema financeiro tem hoje no Brasil um poder gigantesco e pratica as taxas que bemquer”. Para ele,  o Congresso Nacional deveria votar leisregulamentando o sistema financeiro e proibindo os bancos de praticarspreads tãoelevados.

Araújo afirmou que o spreadbancário no Brasil é “imoral”, porque, segundo ele, não é possível ataxa do cheque especial estar em torno de 9% ao mês, quando ataxa de juros nos Estados Unidos é de 1% ao ano. Então,o consumidor acaba sendo afetado.”

O professor considera um equívocorecomendar que as pessoas continuem a consumir para que a economianão desaqueça. Em vez disso o governodeveria aconselhar que todos poupassem dinheiro. “O recado aocidadão brasileiro é que consuma menos e guardesuas economias para os meses mais difíceis. [Que] pague suas dívidas primeiro, seus impostos. E, como o iníciodo ano vêm as mensalidades e o material escolar para os filhos, que tenha parcimônia, porquemeses difíceis virão.”

Parao Brasil, 2009 será um ano mais difícil do que 2008, disse o professor.  Ele ressaltou, no entanto, que os efeitos da crise externa noBrasil não serão tão fortes quanto nos paísesem que ela teve origem. “Se o governo pretende que oconsumo das famílias se mantenha no patamar de 2007, precisaráconversar com os bancos para que não pratiquem taxas tãoelevadas como as atuais.”

Araújo defendeutambém o aumento da concorrência entre os bancos.Segundo ele, em compras parceladas, o brasileiro médio muitasvezes acaba pagando duas vezes o valor do bem somente em juros. “Issofaz com que os bancos tenham lucros exorbitantes, havendo umatransferência de renda das famílias para o sistemafinanceiro”. O professor frisou que não é contra olucro dos bancos: “Eles devem ganhar dinheiro, mas não dessamaneira.”

A tendência defusões e aquisições deverápermanecer em 2009. É que os bancos têm interesse de se“blindar” no Brasil para aproveitar as oportunidades de negóciosfuturas no mercado internacional. “Eles querem começar a seglobalizar Isso ainda não ocorreu de forma efetiva porque oslucros dos grupos bancários no país são muitoaltos. Eles não sentem ainda necessidade estratégica deoperar em outros países.”

Apesar de sofrer algunsefeitos da crise externa, como a retração da atividadeindustrial, Araújo afirmou que o Brasil não estáem crise – a renda do brasileiro subiu ao longo do ano, a economiacresceu em 2007, e isso repercutiu no aumento da renda da classemédia e da classe mais baixa. De acordo com Araújo, ogoverno tomou medidas pontuais acertadas para enfrentar a crise nomercado doméstico, como a criação de faixasintermediárias do Imposto de Renda Pessoa Física. No setor bancário, oeconomista disse que os grandes grupos não estão tendoproblemas: “A exceção são os pequenos e os demédio porte que, em geral, são mais apertados pelaliquidez, porque os grandes não querem emprestar dinheiro paraos menores.” Ele explicou que os bancos de menor porte são,de certa forma, dependentes dos bancos maiores, porque oscertificados de depósito interfinanceiro (CDIs) e de depósitobancário (CDBs) emitidos pelos pequenos bancos têm comocompradores as instituições maiores, que detêm amaior parte do crédito no Brasil.